62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | A divina comédia: enunciação e figuratividade |
Autor(es): | Sueli Maria Ramos da Silva. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 03/12/2024 |
Palavra-chave | Discurso literário , Discurso literário , Figuratividade |
Resumo |
A enunciação, considerada como instância pressuposta pelo enunciado, caracteriza-se por uma função de intencionalidade por parte do enunciador, ou seja, por meio de um contrato de veridicção, caracterizado pela modalidade do fazer-crer verdadeiro, proposta ao enunciatário. Esse contrato de veridicção é estabelecido no domínio literário pelo raciocínio figurativo. A adesão do enunciatário dá-se, portanto, mediante uma forma de racionalidade de ordem analógica, ao que Bertrand (2003, p. 155) caracteriza como “raciocínio figurativo”. Na concepção de Bertrand (2003, p. 111), “a assunção do discurso, no âmbito da análise literária, é geralmente colocada sob a égide do narrador, figura delegada do enunciador, nesse contexto”. Desse modo, nos propomos caracterizar o gênero comédia, tal como imortalizado por Dante Alighieri na Divina Comédia, levando em consideração a maneira como este gênero está submetido à organização textual e aos valores empregados por um narrador, nos diferentes tipos de focalização e nos diversos tipos textuais empregados no gênero (narração, descrição e argumentação). Outra característica da linguagem literária é a presença da figuratividade, tomada como a propriedade que todas as linguagens têm em comum “de produzir e de restituir, parcialmente, significações análogas às de nossas experiências perceptivas mais concretas” (BERTRAND, 2003, p.154). A noção de figuratividade compreende, portanto, “todo conteúdo de um sistema de representação (visual, verbal, ou outro) que tem um correspondente no plano da expressão do mundo natural, isto é, da percepção” (BERTRAND,2003, p. 420). Esse “mundo natural” também é percebido como uma relação entre o plano do conteúdo e o plano da expressão, cujo sentido é construído e interpretado como um objeto semiótico. Nossa análise procura empreender, portanto, como, a noção de enunciação rege, do ponto de vista estrutural a Divina Comédia, relato de viagem que Dante empreende para visitar os três reinos do outro mundo: Inferno, Purgatório e Paraíso, em um poema de linguagem simbólica, que procura descrever figurativamente um mundo e uma realidade que ultrapassam a experiência humana. Veremos, portanto, como a enunciação e a figuratividade regem a forma do gênero em A Divina Comédia, com o enunciatário vivenciando a experiência da percepção mediante a instalação do tempo, espaço, objetos e valores no enunciado. São essas figuras que constituem a dimensão figurativa dos discursos, mediante as quais o “mundo nos fala”. |