62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Trabalho informal – o essencial não se vê |
Autor(es): | Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Linguagem e trabalho, Linguagem e trabalho, Ergologia |
Resumo |
Certos discursos da mídia e dos políticos tentam desvalorizar as atividades econômicas que compõem o setor dito informal, nomeadamente o pequeno comércio ambulante, uma economia cujos fundamentos estão enraizados na organização social brasileira desde o tempo do Brasil colônia com os chamados “pretos de ganho”, escravos que os donos exploravam como vendedores ambulantes nas ruas do Rio de Janeiro (Gomes, 2007). Explicitar a complexidade do cotidiano de tais vendedores é nosso objetivo. E o fazemos a partir da interface entre os fundamentos teórico-metodológicos que articulam estudos discursivos e ergológicos, segundo as perspectivas desenvolvidas por Dominique Maingueneau (2008) e Yves Schwartz (2010), respectivamente. Do primeiro, reteremos, principalmente, dois princípios: o do primado do interdiscurso e o do sistema de coerções semânticas. Tomar como pressuposto o princípio do primado do interdiscurso, isto é, a precedência do interdiscurso sobre o discurso, significa postular que a unidade de análise pertinente não é o discurso, mas o espaço de trocas entre dois ou mais discursos. O interdiscurso é regido por um mesmo conjunto de princípios, as coerções semânticas, que restringem ao mesmo tempo os textos e as práticas institucionais dos grupos que produzem tais textos. Em relação a Schwartz, compartilhamos sua concepção de trabalho como atividade sujeita a normas, renormalizações e debate de valores. Segundo tal concepção, a avaliação do trabalho apenas pelo seu caráter formal e pelos “resultados” não deixa ver as renormalizações, as múltiplas “dramáticas” da atividade, “inseparáveis de certos valores de vida e de saúde. Entre os vendedores ambulantes, direcionamos nosso olhar para os atores sociais que vendem seus produtos em trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (Requena, 2009), cujo cotidiano é marcado por constantes tensões e dificuldades de várias ordens, exposição aos ruídos da locomotiva, às conversas dos passageiros seus clientes potenciais, às pregações de pastores e às demandas de pedintes. Nesse vai e vem, esses vendedores vão construindo sua identidade como trabalhadores. (Apoio CNPq - Processo 309771/2010-2) |