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Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: Sentidos em disputa: sobre (a contestação d)os estereótipos de mulheres negras durante a escravidão no Brasil
Autor(es): Mariana Jafet Cestari. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024
Palavra-chave memória, memória, mulheres negras
Resumo

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre os embates entre sentidos das representações de mulheres negras na história brasileira, em especial durante a escravidão. Para tanto, a partir da Análise do Discurso materialista, analiso o discurso sobre as mulheres negras e das mulheres negras no Brasil, refletindo sobre a relação entre os lugares de enunciação, as posições sujeito no discurso e as redes sócio-históricas da memória. Considera-se que “mulheres negras” não é um coletivo homogêneo e que se constrói como evidência nos processos de subjetivação e identificação no/do discurso. De um lado, para compor o corpus discursivo sobre as mulheres negras, estão relatos e pinturas de viajantes e, centralmente, a obra clássica Casa Grande e Senzala (Freyre, 1933). Aqui adentro os discursos fundadores da brasilidade. Trata-se, em geral, de imagens de mulheres negras enunciadas desde um lugar de enunciação masculino, branco, por vezes, elitista, heterossexual e estrangeiro. Em muitas dessas representações, as mulheres negras são servis e, seus corpos, sexualizados e disponíveis, sendo que a figura da mucama parece significar de forma sintética a harmonia das relações raciais-sexuais-afetivas entre senhores brancos e mulheres negras escravizadas que, para esta posição, estariam na base da miscigenação racial. Por outro lado, para compor o corpus discursivo das mulheres negras, estão manifestos, fotos, vídeos e textos midiáticos do Movimento de Mulheres Negras no Brasil (a partir dos anos 1980) bem como textos teóricos e políticos de suas militantes, com destaque para a produção de Lélia Gonzalez (1984). Nos recortes discursivos, há a contestação dos estereótipos de mulheres negras (da mucama, da ama de leite, da mãe preta, da mulata), a denúncia da violência sexual sistemática e da ausência de representação da mulher negra como mãe de uma família negra ou como lutadora contra a escravidão. As disputas políticas por um lugar de enunciação e pelos sentidos de mulheres negras travadas por mulheres negras para dizerem de si mesmas são pensadas como possíveis práticas de resistência em processos de afirmação e desconstrução de identidades discursivas, em que há repetição e deslocamento dos sentidos em relação às identificações dominantes. Mulheres negras, que já carregam em seus corpos marcas significadas historicamente como diferenças raciais e de gênero, se (re)fazem, se põem visíveis e dizíveis no engajamento político. Atentamos ainda às representações de mulheres brancas nesses mesmos processos discursivos, explicitando sua construção relacional: a boa pra casar, a virgem assexuada, a mulher da casa, entre outras.