62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | “Se ele te proposse casamento você nem piscaria”: a uniformidade pronominal em dados da escrita carioca |
Autor(es): | Thiago Laurentino de Oliveira. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | uniformidade de tratamento, uniformidade de tratamento, cartas pessoais |
Resumo |
Este trabalho retoma a discussão acerca da variação entre as formas tu e você no português brasileiro, abordando, especificamente, a questão da uniformidade de tratamento. Segundo a prescrição encontrada nas gramáticas normativas, utilizar os pronomes com referência à 2ª pessoa do singular de maneira uniforme significa adotar um único paradigma de representação: se o indivíduo trata seu interlocutor por tu, todos os usos pronominais subsequentes devem estar inscritos dentro do paradigma desta forma – ou seja, pronome átono te, pronome tônico ti, possessivo teu etc –, ao passo que, se o tratamento adotado for você, as demais formas pronominais devem pertencer ao paradigma de 3ª pessoa do singular – ou seja, pronomes clíticos o/a e lhe, possessivo seu etc –, ainda que o você faça referência à 2ª pessoa (cf. ALMEIDA, 1980; SACCONI, 1989). Apesar de essa orientação normativa ser insistentemente reproduzida nos manuais de língua portuguesa, diversos estudos linguísticos têm demonstrado que a uniformidade de tratamento não constitui uma realidade no PB, haja vista que construções do tipo “Você leu o livro que eu te dei?” são perfeitamente aceitas e não geram qualquer estigma social (cf. BRITO, 2001; LOPES & CAVALCANTE, 2011; LOPES, 2012). Neste estudo, em específico, analisaremos a correlação entre as formas de 2ª pessoa utilizadas na posição de sujeito e de dativo (Objeto Indireto, cf. DUARTE, 2003) na escrita epistolar de informantes cariocas/fluminenses no intervalo de um século (1880-1980). Adotamos como referenciais teórico-metodológicos a sociolinguística histórica (CONDE SILVESTRE, 2007; HERNÀNDEX-CAMPOY; CONDE SILVESTRE, 2012) e linguística centrada no uso (BYBEE, 2003, 2010). Visamos a investigar as seguintes hipóteses: i) o clítico te é a forma de representação da 2ª pessoa do singular por excelência na posição de dativo, sendo altamente recorrente, independentemente da forma utilizada na posição de sujeito (tu e/ou você) ii) a alta frequência do te pode ser interpretada como uma evidência de gramaticalização, na qual o clítico estaria se convertendo em um afixo de concordância pessoal iii) a realização das demais formas pronominais de dativo estariam restritas a contextos sintático-discursivos específicos. |