Programação do 62º seminário do GEL

Esta pesquisa tem o objetivo de investigar possíveis relações entre os enunciados falados e escritos a partir de uma análise fonológica de palavras hipersegmentadas, e de comparar essas grafias com grafias hipossegmentadas, como, por exemplo, “com tigo” (“contigo”) e “purinquanto” (“por enquanto”). No primeiro exemplo, há a presença não convencional de espaço em branco; no segundo exemplo, ausência de espaço em branco que delimita palavra. Assumimos a perspectiva de que, em alguma medida, a motivação dessas grafias não-convencionais da palavra escrita está relacionada concomitantemente a informações prosódicas (que dizem respeito à organização das sílabas átonas e tônicas em diferentes constituintes fonológicos, como pé métrico, palavra fonológica, etc.) e letradas (que dizem respeito à colocação de espaços em branco e do hífen como indicadores de fronteira de palavra na escrita). Para o desenvolvimento deste estudo, utilizamos um córpus constituído de hiper e hipossegmentações de palavras identificadas em uma amostra longitudinal de 459 textos escritos por 18 alunos que cursaram os quatro últimos anos do Ensino Fundamental (doravante EF) em uma escola pública paulista. Esses alunos produziram entre 100% e 95% dos textos coletados em cada ano letivo, o equivalente a 25 a 26 textos por aluno. Neste estudo, foram estabelecidos dois critérios para a identificação das segmentações não-convencionais de palavras escritas: (i) comparação dos espaços em branco entre palavras ao longo do texto; (ii) comparação entre as grafias das mesmas letras dentro de palavras semelhantes que ocorram no mesmo texto. Para a análise prosódica das hipersegmentações, será tomado a presença não-convencional do branco ou do hífen como marca gráfica motivada pela presença de fronteira de constituinte prosódico. Uma análise quantitativa preliminar apontou os seguintes resultados iniciais: (i) o total de segmentações mantém-se constante ao longo do EF; (ii) o total das hipossegmentações (60,9%) é maior do que as hipersegmentações (39%); (iii) a porcentagem de hipersegmentações aumenta em função do tempo de escolarização. Esses resultados preliminares mostram indícios de que não há correlação segura entre aumento de anos de escolarização e aumento de registros convencionais de palavras e que há uma assimetria de frequência entre hipo e hipersegmentação ao longo do EF. No desenvolvimento desta pesquisa, buscaremos identificar motivações prosódicas e letradas para esses resultados quantitativos. (Apoio: PIBIC/CNPQ- Processo 25642)