Programação do 62º seminário do GEL

Esta comunicação baseia-se na tese em andamento, provisoriamente intitulada “A avaliatividade no discurso de correspondências oficiais do governo do Morgado de Mateus”. Trata-se da análise de um ofício enviado pelo governador e capitão-general da capitania de São Paulo, Dom Luís Antonio de Sousa Botelho Mourão, conhecido como o Morgado de Mateus, ao secretário do reino, o Conde de Oeiras (futuro Marquês de Pombal), apresentando suas hipóteses pessoais para a ocorrência da doença da icterícia em área de governança. Embora o ofício seja um original autógrafo, datado de dez de maio de 1768 na capitania de São Paulo e tenha exercido caráter administrativo oficial em seu período de produção, pode ser analisado atualmente como um documento da terceira idade, ou seja, um testemunho cuja valoração histórica permitiu ser conservado em arquivo. Com base nesse manuscrito, pertencente ao Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal e catalogado pelo Projeto Resgate – Barão do Rio Branco, pode-se analisar o discurso vigente no período setecentista. Para tanto, será empregada a função substantiva da Filologia como ponto de partida, ao se apresentar a transcrição semidiplomática desse manuscrito ainda não publicado. Com base nas demais funções filológicas, a adjetiva e a transcendente, observa-se o emprego da ideologia religiosa e relativa à natureza como explicação às questões ainda não conhecidas pela ciência médica coeva. A análise do discurso veiculado no corpus será embasada na teoria do Sistema de Avaliatividade, desenvolvida por Martin e White (2005), a fim de se conceber as esferas gerais da atitude, do engajamento e da gradação e, desse modo, reconhecer elementos que permitam uma melhor compreensão da ideologia que nos fundamentou socialmente. Pretende-se, portanto, apresentar a análise de um testemunho manuscrito que exemplifique a intersubjetividade responsável por legitimar o poder e a hegemonia no governo monárquico no período e, sobretudo, observar em que medida a avaliatividade da linguagem permeou as correspondências de cunho oficial.