62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Mythos ex machina: a maquinaria cênica em Francisco de Rojas Zorrila e em Antônio José da Silva |
Autor(es): | Eduardo Neves da Silva. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | teatro barroco, teatro barroco, maquinaria teatral |
Resumo |
No encalço de uma espetacularidade total que maravilhasse o público, o uso da maquinaria cênica a serviço dos efeitos visuais simuladores de magia e das constantes mudanças de cenário foi umas das principais características do fazer teatral durante o período barroco. Além disso, o apelo a recursos mecânicos, ao deus ex machina e à intertextualidade transformadora de paradigmas clássicos em obras populares acabavam, em grande medida, por reforçar a artificialidade e finalidade artístico-literária da comunicação teatral. Assistia-se, desse modo, à crescente profissionalização do teatro e ao desenvolvimento de uma certa racionalização instrumental dos meios e recursos cenográficos, em paralelo com a ciência mecanicista e filosofias racionalistas, tais como a cartesiana. De um lado, a ciência progredia no seu desvendamento das engrenagens da cenografia natural; de outro lado, o teatro apresentava-se como núcleo alegórico da mundivisão barroca, a representar outra representação maior, isto é, o theatrum mundi, “o teatro do mundo”. Dois dos mais importantes autores ibéricos desse contexto estético-axiológico são o espanhol Francisco de Rojas Zorrilla e o luso-brasileiro Antônio José da Silva, O Judeu, os quais, retomando o célebre mito dos argonautas e da infanticida Medeia, converteram fábulas originalmente trágicas em operetas tragicômicas, concebendo, respectivamente, as peças teatrais Los encantos de Medea (1645) e Os encantos de Medeia (1735). Tais peças têm em comum a presença de uma personagem cômica (o bufão ou gracioso) e a recorrência de efeitos mágicos levados à cena por meio de engrenagens, polias e outros dispositivos mecânicos. Valendo-se do cotejamento intertextual, do estudo de filosofias da época seiscentista e dos estudos contemporâneos sobre os autores, pretendemos analisar e demonstrar que as supracitadas obras configuram-se como modelos de desenvolvimento da racionalização do trabalho cênico, visando ao maravilhamento catártico do público. Esse processo teria sido impulsionado pela engenharia cenográfica calcada no mecanicismo e pela manipulação cênico-textual de mythos (fábulas) consagrados, que são convertidos num teatro movido por verdadeiras máquinas de fabricar ilusão. |