Programação do 62º seminário do GEL

A criatividade surge como um tema importante na história da educação quando se percebe que o sujeito não é mais um mero reprodutor do ambiente escolar. Essa percepção permite considerar que a relação sujeito e ambiente é atravessada por um trabalho de representação, cujo sujeito assume um papel ativo nessa relação. Em convergência a esse modo de conceber a linguagem, surge a necessidade de se repensar o ensino de gramática. Como seria possível adequar-se a uma perspectiva que concebe a aprendizagem e, portanto, a representação que sujeito tem de si e do outro por meio de uma metalinguagem que reduz a língua a um objeto estático e acabado? Essa questão, central para o ensino de Língua Materna, é desafiadora porque nos convida a pensar na língua e na produção de sentidos como uma atividade incessante de ajustamento. Ao invés de propormos soluções radicais – ou que evacuam todo tipo de reflexão metalinguística, ou que a restringem a um conjunto de dados higienizados sem preocupação com o empírico – propomos uma reflexão metalinguística maleável, que se serve da intuição do sujeito e torna-se mais consistente à medida que provoca para capacidade de pensar a própria produção linguística. Diante de tais constatações, é necessário considerar ainda, as postulações encontradas em diretrizes curriculares como os PCNs de Português (1998), cuja preocupação é o desenvolvimento de práticas pedagógicas que promovam a capacidade discursiva dos alunos. Com base nos preceitos culiolianos, discutimos duas questões linguísticas distintas, mas que se articulam sob a mesma reflexão sobre a linguagem: o tempo e a qualificação. A proposta é como provocar o pensar sobre a língua por meio de representações linguísticas distintas. A qualificação, no enfoque culioliano, é, no nível nocional, um tipo de representação desprovida de uma formatação ou de uma materialidade. A manifestação de uma noção em um enunciado é a formatação de uma noção, ou seja, é a materialização desta que dá acesso a um tipo de ocorrência de uma noção. A qualificação é uma operação que incide no enunciado inteiro. O interessante é que esta só pode ser percebida por meio de uma quantificação. O tempo pode ser relacionado às operações de quantificação/qualificação porque a Língua Portuguesa oferece recursos para determinar ou indeterminar a representação do tempo. Para o desenvolvimento deste estudo, o corpus é constituído de produções textuais de alunos de 9° anos do Ensino Fundamental de uma escola pública.