62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | O cronotopo autobiográfico em Jorge Amado e em José Saramago: verdade ou ficção? |
Autor(es): | Lílian Lopondo, Aurora Gedra Ruiz Alvarez. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Cronotopo autobiográfico, Cronotopo autobiográfico, José Saramago |
Resumo |
A literatura de autoria de Jorge Amado e de José Saramago inclui textos “autobiográficos”, Navegação de Cabotagem (1992), no caso do primeiro, e Cadernos de Lanzarote (1994-1994 / 4 volumes), no do segundo, em que ambos relatam, à moda de um diário, os eventos do seu cotidiano. Esse “desdobramento narcísico”, segundo Philippe Vilain, em Défense de Narcisse (2005), conhece uma fortuna crítica bastante ampla. Mikhail Bakhtin é um dos estudiosos que se debruça sobre o assunto e traça considerações interessantes sobre o gênero. Para o filósofo da linguagem russo, a escrita autobiográfica implica a existência de duas consciências que não coincidem, a do sujeito narrante e a do narrado. Essa diferença de posicionamentos de sujeitos acerca de um dado tempo-espaço da enunciação (cronotopo) está estreitamente vinculada à memória, à imaginação e ao conceito de inacabamento do sujeito. Voltar ao passado e recuperar o experimentado é tarefa de reinvenção porque o escritor é outro em relação a si mesmo. Ao representar vivências passíveis de serem vividas, ele cria uma distância interposta pela elaboração estética entre o factual e a matéria produzida que, ao fim e ao cabo, apreende, como fenômeno vivido, tão somente a experiência da escrita. No processo de falar de si, os sujeitos autobiográficos de Navegação de Cabotagem e de Cadernos de Lanzarote mostram-se em construção, isto é, colocam em xeque não só os acontecimentos inscritos na narrativa, mas também problematizam o próprio ato de narrar, tornando os textos ambíguos e os narradores suspeitos. Muitas vezes, o próprio leitor é também convocado para organizar esse caos interior e nesse partilhamento, este último realiza a sua própria leitura juntamente com o narrado. No amálgama de percepções de mundo que se afirmam e que se confrontam em ambas as narrativas, este trabalho busca investigar como se articula o binômio verdade/ficção nessas obras a partir das reflexões supramencionadas, fundamentados, especialmente, em Questões de literatura e estética (1988), de Mikhail Bakhtin, a respeito do cronotopo autobiográfico. |