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Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: Possibilidades de análise fonológica nas cantigas de Santa Maria: consoantes laterais
Autor(es): Maiara Marques da Silveira. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024
Palavra-chave consoantes laterais, consoantes laterais, português arcaico
Resumo

Este trabalho centra-se no estudo do sistema consonantal do português arcaico, focalizando as consoantes laterais. Já existem diversos trabalhos sobre a estrutura consonantal das fases ancestrais do português. Entretanto, os trabalhos realizados neste sentido são, na sua quase totalidade, provenientes da tradição filológica oitocentista (isto é, do século XIX), tendo sido realizados a partir de concepções de linguagem pré-saussurianas e ultrapassadas. Desta forma, a presente pesquisa se propõe como uma visão linguística (científica) do fenômeno, levando em consideração novos recursos que as teorias fonológicas não lineares colocam à disposição do pesquisador, sobretudo em relação à consideração da estrutura hierárquica da sílaba. O trabalho tem como objetivo verificar a ocorrência de palavras que possuem consoantes laterais (grafadas com <l>, <ll> e <lh>) nas posições silábicas de onset (início) e coda (travamento) que aparecem em contexto de rima nas Cantigas de Santa Maria, atribuídas a Afonso X (1221- 1284). Para o desenvolvimento desta pesquisa tem sido utilizada a edição de Mettmann (1986-1989) das Cantigas de Santa Maria, da qual foram coletadas 525 diferentes palavras nas 52 primeiras cantigas, todas contendo consoantes laterais. A principal conclusão alcançada até o presente período de desenvolvimento da pesquisa é que, em conformidade com o que já havia sido verificado em trabalhos anteriores, como o de Somenzari (2006) para as cantigas medievais profanas, a lateral palatal pode ser interpretada como concomitantemente assumindo a posição de coda da sílaba anterior e a de onset da sílaba em que se encontra no nível fonético. É importante dizer que são necessários, para considerarmos a lateral palatal como uma consoante complexa, alguns critérios já antes apontados por Wetzels (2000), como:

  • Ocorrer a consoante palatal exclusivamente em posição intervocálica;
  • O não surgimento de ditongos precedendo a lateral palatal (quando ocorrem sequências vocálicas nessa situação, a formação é de um hiato, onde se tem vogal + vogal alta) e
  • As sílabas que precedem a consoante precisam ser leves (ou monomoraicas).

As palavras coletadas como corpus deste trabalho atendem aos critérios definidos por Wetzels. Assim sendo, podemos dizer que a consoante palatal grafada por <ll> pode assumir o status de geminada no Português Arcaico, da mesma forma que acontece no Português Brasileiro.