62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Perspectiva: implicações aspectuais e temáticas sobre os eventos causativos |
Autor(es): | Thayse Letícia Ferreira. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Estruturas causativas, Estruturas causativas, Semântica |
Resumo |
Os estudos sobre semântica das línguas naturais têm se voltado nas últimas décadas para questões cognitivas relacionadas à linguagem (LEVIN; RAPPAPORT-HOVAV, 2005; JACKENDOFF, 1983, 2005; TALMY, 2000). Dentre essas questões, a noção de perspectiva figura como fundamental para a estruturação das línguas. Afinal, a maneira pela qual os indivíduos representam os eventos do mundo se dá a partir de certo “ponto de vista”. Para Fillmore, “qualquer cláusula que construímos para falar de um evento requer a escolha de uma perspectiva particular sobre o evento” (1977, p. 72). Assim, neste trabalho, pretendemos demonstrar que a seleção de “etapas” dos eventos causativos, realizada através do mecanismo da perspectiva, possui implicações aspectuais e temáticas interessantes. Esse fato é observável quando contrastamos dados de aquisição do PB com dados de fala adulta. A hipótese a ser atestada é a de que crianças em processo de aquisição selecionam como primeiro plano para as sentenças o resultado culminado do evento, dando preferência à classe dos achievements (VENDLER, 1967) e, no domínio das relações temáticas, ao objeto afetado. Como exemplo podemos tomar uma sentença como “eu morri o bebezinho” por “eu estraguei a boneca”. Por outro lado, na fala adulta, é o processo de culminação que figura como primeiro plano nas sentenças, gerando estruturas mais complexas que explicitam sintaticamente as relações temáticas da cadeia causal. Para atestar a hipótese, utilizamos o método de produção eliciada (CRAIN; THORNTON, 1998) e elaboramos três vídeos com eventos causativos, testando a produção de estruturas explicitamente contextualizadas: quebrar um carrinho com volição, fazer um boneco de massinha e fazê-lo andar. Aplicamos o teste a 45 crianças entre 3;4.19 e 5;8.23 anos e também a um grupo controle de 20 adultos, eliciando as seguintes perguntas: (1) o que aconteceu com o carrinho? (2) o que aconteceu? e (3) o que aconteceu com o boneco? Colocando o objeto afetado em evidência, era esperado que as sentenças produzidas pelos adultos fossem do tipo “a menina quebrou o carrinho”, “ela fez um bonequinho” e “ela fez ele andar”, pois essas sentenças explicitam sintaticamente as relações temáticas de desencadeador e afetado. Já para os dados de aquisição, as respostas alvo seriam do tipo “quebrou/ele quebrou”, “um boneco” e “ele andou”. Os dados obtidos com o experimento foram quantificados a partir de sua configuração sintática e, através de sua apresentação, esperamos demonstrar que a diferença na seleção de “etapas” dos eventos resulta em relações semânticas e sintáticas distintas. |