Programação do 62º seminário do GEL

Neste trabalho, são analisadas as construções de tempo e modo verbais em construções adverbiais concessivas introduzidas por mesmo que. A análise sustenta-se na teorias cognitivo-funcionais da linguagem, especialmente no cognitivismo de Fauconnier (1994, 1997) e no funcionalismo de Givón (1995, 2001, 2002). É comum a esses dois autores o entendimento de que construções de tempo e modo verbais podem servir a dois propósitos: (i) manutenção do tempo relativo entre os eventos em diferentes espaços mentais; (ii) manutenção da “postura epistêmica”, que diz respeito ao estatuto de “realidade” de um espaço em relação a outro. No primeiro caso, as construções de tempo e modo verbais são indicadoras da localização dos eventos descritos nas orações em uma linha temporal; no segundo caso, as construções de tempo e modo verbais são indicadoras do envolvimento e do comprometimento do falante com os eventos descritos nas orações. Nesse último caso, a escolha do tempo e modo verbais é altamente composicional, ao passo que naquele primeiro caso, a escolha é condicionada a restrições sintáticas, apresentando baixo grau de composicionalidade. Com base nessas considerações, este estudo busca determinar se a escolha de tempo-modo verbais segue padrões de composicionalidade das construções de tempo e modo verbais nas construções adverbiais concessivas ou se o uso é automático e previsto pelo caráter subordinado das construções concessivas a partir da verificação das funções das construções de tempo e modo verbais na relação concessiva. Foram coletadas 261 ocorrências de construções concessivas introduzidas por mesmo que, nas quais tanto o segmento nuclear (SN) quanto o segmento adverbial (SA) são oracionais. Nessas construções, foram observados onze padrões de combinação de tempo e modo verbais no segmento nuclear e no segmento concessivo que se enquadram em um dos quatro padrões mais recorrentes de combinação: a) presente do indicativo (SN) e presente do subjuntivo (SA); b) futuro do presente (SN) e presente do subjuntivo (SA); c) futuro do pretérito (SN) e pretérito imperfeito do subjuntivo (SA); d) pretérito imperfeito do indicativo (SN) e pretérito imperfeito do subjuntivo (SA). O universo de investigação deste trabalho é formado de ocorrências do Corpus do Português (www.corpusdoportugues.org), pertencentes tanto à modalidade falada quanto à modalidade escrita da linguagem.