Programação do 62º seminário do GEL

Teremos, como exposição neste artigo, a análise de canções buarquianas do período da ditadura militar com temática sócio-política. Com o intuito de fazer uma breve contextualização consideramos pertinente abordar alguns aspectos históricos do contexto de produção dessas canções. Julgamos importante retomar tais aspectos para revisitarmos, mesmo que de maneira rápida, as relações de tensão e de embate de ideias e de ideais presentes à época, espaço e tempo delineados por tensões e por controvérsias. Dessa forma, consideramos, em nossa análise, o gênero canção como uma manifestação artística popular, uma prática artística associada a um projeto final. Vale ressaltar que a canção tem sua letra organizada musicalmente, considerando amelos, que padroniza e estabiliza as entoações – as alturas em que são exprimidas oralmente as sílabas dos versos da canção – e, também as entonações – a tonalidade, o timbre, enfim, aspectos harmônicos da modulação vocal e instrumental. Assim, na constituição da canção concorrem diversos elementos que se sincretizam, podemos citar, além da letra, elementos rítmicos, timbrísticos, entoativos, harmônicos, de densidade, altura etc., fator que dá ao corpus de análise (canção) uma complexidade de abordagem singular e que convoca um arcabouço teórico interdisciplinar capaz de abordar esses elementos que se articulam para a produção de efeitos de sentido. Dessa forma, a fim de obter uma apropriação de categorias de análise utilizaremos, como arcabouço teórico, conceitos da Semiótica em três vertentes: discursiva, tensiva e da canção e associaremos, então, essas categorias depreendidas à Retórica. Assim, verificaremos em que medida as canções de Chico Buarque, deste período, operam como um espaço retórico alternativo. Como corpus de análise teremos trechos de diversas canções que possuam a articulação tensiva “opressão x liberdade”. Buscaremos, assim, compreender em que medida o compositor instala uma situação retórica em que ele se constitui como um orador (ethos); diante de um auditório a fim de mobilizar paixões (pathos); utilizando o discurso - recursos verbais e racionais para tratar aquilo que está em questão (logos); tendo na referida situação retórica o suporte musical como parte da cena enunciativa a melodia e outros elementos musicais (melos). Abordaremos, assim, as estratégias e os recursos discursivos utilizados para alcançar determinados efeitos de sentido e a forma pela qual as referidas canções podem ser associadas a um ato retórico tipificado com propósitos comunicativos específicos: a mobilização de paixões na articulação dos objetos discursivos opressão x liberdade.