62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | A neurolinguística e o paradigma indiciário |
Autor(es): | Mirian Cazarotti Pacheco. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | NEUROLINGUÍSTICA, NEUROLINGUÍSTICA, AFASIA |
Resumo |
As questões metodológicas influenciam os recortes que fazemos dos fenômenos, as formulações de hipóteses e o acompanhamento terapêutico dos sujeitos cuja linguagem se encontra impactada por alguma patologia e, portanto, são um dos grandes desafios a se enfrentar no campo dos estudos neurolinguísticos e norteiam nossas discussões no GELEP (Grupo de Estudos da Linguagem no Envelhecimento e nas Patologias, CNPq) . A opção mais coerente com a perspectiva sócio-histórica – à qual filiamos nossos trabalhos no interior da Neurolinguística discursivamente orientada (cf. COUDRY 1986/1988; NOVAES-PINTO, 2012) – é a metodologia qualitativa, dentre as quais encontramos o paradigma indiciário, explicitado pelo historiador Carlo Ginzburg. Este modelo epistemológico surgiu no âmbito das Ciências Humanas no início do século XIX e focaliza pistas, indícios, pequenos fatos, sintomas, ocorrências únicas e singulares. O paradigma indiciário vem sendo descrito e aplicado, no Brasil, nas pesquisas em aquisição de escrita desde 1992 e, a partir de 2000, nos estudos neurolinguísticos orientados discursivamente. Ambos compartilham dos pressupostos teórico-metodológicos que se pautam na singularidade dos dados para buscar compreender os fenômenos no funcionamento linguístico real, de sujeitos reais (cf. ABAURRE; COUDRY, 2008). Este estudo pretende, por meio de investigação bibliográfica, traçar esse caminho e também realizar uma reflexão sobre as contribuições do paradigma indiciário aos estudos neurolinguísticos. Entendemos que a forma de construção de dados nessas pesquisas – por meio de videogravação e transcrição dos episódios – focaliza a atenção a detalhes, o recorte de episódios interativos, um exame orientado para o funcionamento dos discursos, as relações intersubjetivas e as condições sociais da situação, resultando num relato minucioso dos acontecimentos. Para desenvolver nossas discussões, trazemos a análise indiciária de um episódio dialógico do sujeito afásico CS, que ocorreu em uma sessão de acompanhamento individual do CCA – Centro de Convivência de Afásicos do IEL/UNICAMP (CAZAROTTI-PACHECO, 2012). Focalizamos, principalmente, a questão da subjetividade. A partir dos pressupostos bakhtinianos, podemos afirmar que a subjetividade revela-se durante a construção dos enunciados nos processos dialógicos reais. Nesses processos, o sujeito produz seus enunciados motivado por um querer-dizer que é carregado de marcas de subjetividade. O relato de CS tem a forma de depoimento, no qual ele apresentou um julgamento valorativo de um fato, revelando, assim, questões relativas à subjetividade, muitas vezes implícitas no “não-dito”, nas pistas e indícios, verbais ou não e, ao final, pudemos concluir que ele se aproximou do seu querer-dizer. (Apoio: FAPESP - Processo 2012/19763-1). |