62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | O impacto das escolhas metodológicas na investigação de um caso-limite de afasia |
Autor(es): | Larissa Picinato Mazuchelli. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Neurolinguistica, Neurolinguistica, Escrita e oralidade |
Resumo |
Ao retomarmos brevemente a história da afasiologia, observamos que a linguagem oral, até o século XIX, era reduzida a um ato motor e a escrita era vista unicamente como simulacro da fala (cf. Santana, 2002). Essas concepções ainda estão presentes, contudo, na literatura neurolinguística tradicional, que dicotomiza a relação entre oralidade e escrita, e parte de características de uma escrita normativa padrão para avaliar a linguagem de sujeitos afásicos. A posição da Neurolinguística Discursiva, desenvolvida no IEL/UNICAMP, coloca no centro da teoria e prática terapêuticas o sujeito enquanto atuante com e sobre a linguagem. Nela, a linguagem não é dada e fixa, mas um fenômeno sócio-histórico, uma atividade humana tomada como lugar de interação e interlocução de sujeitos, indeterminada, incompleta e passível de (re)interpretação, em que tanto o sujeito quanto ela própria se constituem em um movimento dinâmico (cf. Franchi, 1977; Coudry, 1986/1988, Geraldi, 1990). O abandono da dicotomia entre oralidade e escrita e essa concepção de linguagem e de sujeito tornam-se ferramentas teórico-metodológicas essenciais para a investigação da escrita nas afasias. Além disso, o estudo da produção de escrita contribui para o aprofundamento do entendimento da relação escrita-oralidade, pois explora as características e os limites de interpenetração de ambas, além de possibilitar o aperfeiçoamento da avaliação de linguagem e conseqüentemente o acompanhamento terapêutico de sujeitos com alterações de linguagem. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é discutir o impacto das escolhas teórico-metodológicas para a compreensão do caso-limite da afasia fluente-progressiva de AJ. Trata-se, assim, de uma reflexão sobre como essas escolhas nortearam o estudo de caso desse sujeito – do sexo masculino, com 75 anos de idade, economista e que frequentou um grupo de convivência de afásicos de 2006 a 2012. As análises dos dados, coletados nas sessões de atendimento individual e do grupo, somadas à produção escrita prévia, são orientadas pelo paradigma indiciário de Ginzburg (1953), considerando-se também o conceito de gêneros discursivos (cf. Bakhtin, 1929/1997) para a compreensão da relação entre escrita e oralidade. Dessa forma, considerando-se a produção escrita de AJ (anterior e posterior aos eventos neurológicos) e os dados de suas avaliações neurológica e neuropsicológica, além das análises de sua produção oral, mostramos como as escolhas metodológicas foram determinantes para (i) a compreensão do caso de AJ e para (ii) a ressignificação da relevância do trabalho discursivo com a escrita-oralidade (a) na obtenção de dados e (b) na reorganização linguístico-cognitiva de AJ. |