62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | O preconceito linguístico como barreira à inclusão digital |
Autor(es): | Octávio Augusto Bueno Fonseca da Silva. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | cibercultura, cibercultura, educação linguística |
Resumo |
A cibercultura (LEVY, 2010) já faz, indubitavelmente, parte de nossas vidas. A cada dia estamos mais integrados e envolvidos nessa imensa teia de informação. A internet, que antes era acessível apenas através de um computador grande, caro, limitado e que exigia muitos rituais para ser acessada, hoje está integrada a dispositivos eletrônicos (celular, tablet) que são também muito mais baratos e acessíveis. Fazer parte da cibercultura tornou-se indispensável para a nossa constituição enquanto cidadãos. A internet, em princípio, permite que possamos, não apenas acessar conteúdos, de forma passiva, mas produzi-los, ressignificá-los (MOITA LOPES, 2010). E quais seriam os elementos necessários para exercermos a cidadania nesse espaço virtual? Bons equipamentos eletrônicos? Acesso à internet de alta velocidade? Domínio de procedimentos específicos (letramento digital)? Neste trabalho, procuro argumentar que, ainda que essas exigências sejam necessárias, elas não são suficientes. Apoiado em dados empíricos coletados para minha pesquisa de iniciação científica, busco demonstrar que a falta de domínio da norma padrão da língua portuguesa em sua modalidade escrita pode se constituir em impedimento para que alguns internautas sejam devidamente ouvidos e considerados interlocutores legítimos. A web tende a não perdoar “erros” de português e, em um movimento de “resgate da pureza linguística”, silencia os que não têm acesso à variedade culta ou padrão (GNERRE, 2003). De forma a sustentar esse argumento, analiso um conjunto de postagens em sites de notícias na qual o pertencimento de alguns usuários a essa comunidade virtual é deslegitimado pelo modo como escrevem. Um indivíduo de baixa classe social, de pouca escolarização até pode participar dos mesmos grupos de discussão que pessoas altamente escolarizadas, mas isso não o torna “igual” na rede, mesmo que esteja utilizando um equipamento sofisticado e que saiba manejar recursos tecnológicos de última geração. Em muitos sites, raramente há possibilidade de outra identificação pessoal (símbolos, imagens, etc.), então o foco é posto na forma do dito, que pré-concebe, para os outros usuários, a classe social e a posição-sujeito do emissor. Como conclusão do trabalho, pretendo chamar a atenção, em primeiro lugar, para o fato de que internet não é, necessariamente, um espaço democrático, como se costuma acreditar e, em segundo, que dados como o aqui analisados podem se constituir em material didático importante para que professores de língua portuguesa problematizem a questão do preconceito linguístico em sala de aula. |