62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Considerações sobre o funcionamento da fórmula discursiva "cultura de paz" no mercado editorial brasileiro |
Autor(es): | Helena Maria Boschi da Silva. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | fórmula discursiva, fórmula discursiva, mercado editorial brasileiro |
Resumo |
Nesta apresentação nos propomos a analisar discursivamente o funcionamento do mercado editorial no que diz respeito a publicações que têm como objeto principal “cultura de paz”. Postas em circulação como objetos técnicos específicos – cartilhas, livros teóricos, coletâneas etc. –, essas obras colaboram para a instauração e a difusão dessa fórmula nos discursos institucionais como agente de apagamento da conflitualidade, notadamente por meio de seu funcionamento como referente social no espaço público e, como consequência, argumento legitimador de práticas institucionais variadas. O córpus, composto de dezesseis publicações que têm a fórmula “cultura de paz” em seu título, foi coletado em livrarias tradicionais, no caso de obras recentes, e em sebos cadastrados na plataforma “Estante Virtual”, a fim de abranger publicações que circularam durante os anos 2001 a 2010, declarado pela ONU como a “Década Internacional para uma Cultura de Paz e Não Violência para as Crianças do Mundo”. Devido a sua extensão e o tempo relativamente curto para abordá-lo de maneira mais detida, a análise que fazemos aqui tem o objetivo de caracterizar de forma geral o funcionamento desse recorte do mercado editorial brasileiro. Decidimos separá-lo em dois grupos, inscritos em dois posicionamentos distintos. De um lado e majoritariamente, obras que relatam experiências e/ou propõem ações locais, muitas vezes baseadas nas assertivas “Seja você mesmo a mudança que quer ver no mundo”, de Gandhi, e “paz é a gente que faz”, que circula sem autoria definida no interdiscurso. Sendo recorrentemente retomadas nos manuais de “cultura de paz”, elas reforçam a leitura de que cada sujeito é individualmente responsável por mudar a realidade ao seu redor. De outro lado, obras que concebem a “cultura de paz” enquanto decorrência de uma necessária mudança de paradigmas socioeconômicos, contrapondo-a à “cultura de violência” consequente de heranças históricas e políticas públicas neoliberais características do sistema capitalista. Esses posicionamentos discursivos são manifestados linguisticamente por meio da estabilização de enunciados e do apagamento da conflitualidade no primeiro grupo, características típicas dos discursos institucionais, e, no sentido inverso, por uma tentativa de desopacificação da linguagem nos discursos do segundo grupo, numa clara disputa pelo preenchimento semântico das fórmulas que circulam na arena do espaço público. Em ambos os casos, essas obras colaboram na construção do ethos das instituições e dos atores que ali aparecem por meio da divulgação de suas ações em prol da “cultura de paz”. (Processo FAPESP 2013/10465-0) |