62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Entre a história e a ficção: a magia das memórias de Nove Noites, de Bernardo Carvalho |
Autor(es): | RENAN AUGUSTO FERREIRA BOLOGNIN. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Literatura Brasileira Contemporânea, Literatura Brasileira Contemporânea, Memória |
Resumo |
É de senso comum que se conhecendo o passado, entende-se o futuro. E é por meio desse senso comum que ancoramos nossa comunicação do romance Nove Noite, de Bernardo Carvalho. Neste, é contado o suicídio do etnólogo americano Buell H. Quain durante seu período de estudos empírico dos índios Krahô, no Xingu, em 3 de agosto de 1939 por dois narradores. O narrador principal é um jornalista que nos convida ao dito suicídio que ele também não experimentou. Para narrar, ele busca obsessivamente memórias capazes de solucionar o(s) motivo(s) do ato irresoluto por mais de 60 anos. Através de cartas, fotografias e relatos de pessoas que conviveram com o etnólogo, forma-se uma rede de vozes em torno da figura de Quain. Nota-se aí uma diferenciação clara com a traçada por Gérard Genette (1975) a respeito das memórias de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, serem involuntárias. Já a busca do jornalista baseia-se na retomada historiográfica do passado e, assim, conjugada à voluntariedade da memória. Na outra instância narrativa, acompanhamos o suposto testamento em itálico de Manoel Perna. Durante nove noites, no intervalo de 6 meses, ele proseou com Quain antes de sua morte. Nessa instância intradiegética, temos a impressão de que solucionaremos o suicídio do americano. No entanto, isso fica na expectativa, pois o testamento é tão fictício quanto à narração do jornalista. O artista da memória (ou o narrador dela) é um mago, pois interpreta o passado e o transmite aos demais mortais (ROSSI, 2010, p.18). Isso porque a memória pertence ao passado, como Aristóteles ensina em seu De memoria et reminiscentia. Ou seja, ao desconhecido. Assim sendo, na narração estão presentes relações ideológicas na história contada, que memorizou alguns fatos e esqueceu de outros. Por sua vez, este passado fragmenta a ordem da estrutura narrativa, permitindo discutir sua articulação como pontos em comum à diferenciação e à continuidade (RICŒUR, 2007, p. 108). Assim, estudamos a estrutura narrativa do romance interconectada às memórias como discursos transpostos de outros personagens e anacronias temporais, apoiados na narratologia de Gérard Genette (1995), e em textos afins, para elucidarmos tal movimento memorialístico como responsável pela mescla entre história e ficção. E como objetivos delimitamos: (1) Demonstrar a diferenciação entre as memórias ditas voluntárias e as ditas involuntárias; (2) Indiciar a memorização e o esquecimento como fatores ideológicos da narração; e (3) Evidenciar as causas e efeitos da memória na narração. |