62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Os adjetivos miramarianos: uma análise de seus efeitos de sentido |
Autor(es): | Alessandra Ferreira Ignez. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 23/11/2024 |
Palavra-chave | adjetivos, adjetivos, expressividade |
Resumo |
A obra “Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, apresenta como uma de suas marcas estilísticas o largo uso de adjetivos, que surgem no livro de várias maneiras: sob forma de metáfora, de hipálage ou acompanhando um substantivo sinedóquico. Há também os casos em que são criados adjetivos. Todos eles representam uma importante ferramenta para que os sentimentos e a visão de mundo do narrador-personagem, Miramar, aflorem em seu discurso, que nos conduz às suas memórias. Além disso, alguns simulam o funcionamento do processo de recordação, pois conseguem apresentar, com outros constituintes da frase, elementos sobrepostos, imbricados, como acontece quando lembramos de algo. Por meio das associações feitas pelas metáforas de adjetivos, por exemplo, podemos entender como o narrador-personagem constrói seu pensamento e sua visão de mundo. O emprego da sinédoque, por sua vez, só estabelece, na obra, relação de parte pelo todo. Isso faz com que Miramar destaque, em sua lembrança, o traço que considera mais importante. A sinédoque e o adjetivo que se refere ao todo pressuposto fazem com que o narrador mostre a sua visão de conjunto das coisas que estão relacionadas à sua realidade extralinguística. As hipálages também corroboram para a questão da afetividade e do sentimento, pois a ordem das palavras dentro da frase mostra a ordem de importância dos elementos constituintes da lembrança. Além disso, o uso da transposição gerado pela hipálage faz com que dois elementos semanticamente afastados sejam aproximados sintaticamente, forjando, assim, o sentimento que o narrador tem de conjunto das coisas em sua memória. Por último, os neologismos, remediando a insuficiência do material linguístico, expressam com mais “precisão” aquilo que sente ou que pensa sobre os momentos recordados, deixando, revelar, sua subjetividade. Pode-se inferir que esses diferentes empregos de adjetivação contribuem para a compreensão do sentimento do narrador e, em alguns casos, engendram o funcionamento da memória. Partindo da Estilística Léxica, que se ocupa da expressividade das palavras em seus universos enunciativos, considerando seus efeitos de sentido e suas contribuições para o todo textual, propõe-se, neste trabalho, analisar uma amostragem dos tipos de adjetivação existentes no romance, tendo vista entender a especificidade e a expressividade desses usos linguísticos para a obra. Por meio da análise de um traço de estilo, baseada nos estudos estilísticos e discursivos, espera-se explicitar também o ethos daquele que enuncia. |