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Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: A enunciação da literatura ao cinema: o caso de Catatau e Ex-isto
Autor(es): Bruna Paola Zerbinatti. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024
Palavra-chave enunciação, enunciação, cinema
Resumo

Quando o leitor se depara com a obra Catatau, de Paulo Leminski, o primeiro impacto é geralmente um susto. Portador de mais de duzentas páginas que se desenrolam em um único parágrafo, este “romance-ideia”, como definido por seu autor, impressiona por sua riqueza e complexidade. Também impactante é a adaptação fílmica do romance, a obra Ex-isto do diretor Cao Guimarães, que tenta traduzir a escrita fragmentária com elementos próprios da linguagem cinematográfica. Tendo como pressupostos teóricos a semiótica de linha francesa, ou greimasiana, pretendemos analisar de que forma se apresenta a enunciação em Catatau e em Ex-Isto e como os processos enunciativos corroboram para a construção do sentido das obras. Embora no romance a narrativa se apresente de forma extremamente diluída, temos um Descartes que desembarca em terras brasileiras junto a Maurício de Nassau e que, aturdido pela fauna e flora brasileira, não consegue estabelecer sua razão cartesiana. Temos então um sujeito que precisa lidar com todo um ambiente desconhecido, com novas línguas, gentes e bichos e que questiona todo o tempo essas visões e percepções. Assim, a cena enunciativa é construída de modo que o tempo se coloca como um “sempre” por meio do uso abusivo do presente gnômico. O espaço se caracteriza por ser ao mesmo tempo singular e diversificado, aquele onde tudo acontece e a pessoa se coloca como uma espécie de “todo mundo”. No filme, temos o que é possível chamar de duas enunciações, que correm paralelas e uma terceira, mais esporádica. A primeira é a verbal,  corresponde ao texto narrado. Nela, encontramos o texto de Catatau tal como está no livro. Única exceção são os cinco primeiros minutos do filme, em que há um trecho de Discurso do Método, de René Descartes. O único recurso de manipulação desta enunciação é a repetição, ou seja, o que muda entre o livro Catatau e o texto verbal de Ex isto é simplesmente que no filme existe, algumas vezes, uma repetição do fragmento. A segunda enunciação trata dos elementos visuais e trilha sonora composta no filme. A terceira pontua alguns momentos. Trata-se de legendas intermediárias em quadro, típicas do cinema mudo. A maioria delas possui como conteúdo alguma frase de Catatau, porém também pode haver uma localização espacial ou explicação de Leminski sobre seu romance. Tentamos, então, mostrar como a semiótica pode auxiliar no estudo de diferentes gêneros sob o ponto de vista da enunciação.