62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Discursos contra Hitler: um gesto de interpretação |
Autor(es): | Ana Paula Alves Correa. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Discursos natalinos, Discursos natalinos, Thomas Mann |
Resumo |
Neste estudo propomos a explicitação do gesto de interpretação
que sustenta os dois discursos selecionados na obra Ouvintes Alemães! Discursos
contra Hitler, proferidos nos natais de
1940 e 1941, definidos como nosso objeto de pesquisa. Partimos da premissa que
eles estão marcados pelo espaço simbólico, pela relação com o silêncio, pelas
condições de produção e também pelo interdiscurso, produzindo sentidos.Para
tanto, o referencial teórico tomado por base é a Análise de Discurso de linha
francesa, apresentamos como suporte teórico a noção de interpretação, memória e
arquivo. O interdiscurso se materializa nos discursos analisados pela questão
da presença do discurso religioso, baseado em crenças e costumes cristãos no
discurso antinazista de Thomas Mann. Acreditamos ser relevante destacar as
aparições tanto da palavra Luz, quanto da palavra Sol em nosso objeto de
pesquisa, no que se refere ao aspecto negativo de sol, temos uma simbologia
ligada a uma ideia de grandeza, poder e soberania que, juntamente com outro
aspecto que traz o simbolismo do sol como destruidor e devastador, na aridez,
nas secas e nos escaldantes desertos teria ligação com as condições de produção
dos discursos de Mann, afinal, o homem que estava no poder acreditava que
somente com a destruição e através da violência atingiria seu objetivo doentio.
No que se refere ao aspecto positivo da simbologia solar, temos uma imagem de
ressurreição e de imortalidade: vida, morte e renascimento. Assim, ao contrapor
tais aspetos solares, poderíamos dizer que o papel do sol dentro desse discurso
seria também atentar os alemães para a questão do próprio renascimento, de uma
nova história e principalmente de despertar diante de tudo que estava
acontecendo sem que o povo se opusesse. O que vemos também é o escritor Thomas
Mann diplomaticamente trazer o discurso religioso para falar da cerimônia
natalina, questionando a fidelidade dos alemães, mas, deixando claro que a
escolha é do povo, ou seja, o livre arbítrio em sua duplicidade, o que confirma
a contradição do conteúdo da ideologia política onde o livre arbítrio traz
consigo a noção de coerção. Portanto, ao estudar esses discursos podemos
entender que os radiofônicos em questão, sobretudo os dois trabalhados em nossa
análise, são mais do que transmissões natalinas para manter o povo alemão
informado durante a Segunda Guerra Mundial, são apelos repletos de estratégias
discursivas para que o locutor possa tentar convencer o povo alemão a
rebelar-se com a guerra nazista. |