62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
---|---|
Título: | A classe C pode revolucionar o Brasil? Os movimentos de sentido na textualidade midiática |
Autor(es): | André Fernandes. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | CLASSE C, CLASSE C, SIGNIFICAÇÃO |
Resumo |
Neste trabalho, proponho analisar, a partir de um gesto interpretativo que toma a reescrituração, a articulação e o direcionamento argumentativo como fatores de textualidade, como a “classe C” é significada em uma reportagem midiática. A partir da última década, o debate sobre a classificação social no Brasil se intensificou, em decorrência das mudanças em curso no país. Segundo o que afirmam economistas, cientistas sociais e até mesmo representantes governamentais, o crescimento econômico acarretou mudanças significativas na distribuição da renda entre os estratos sociais, permitindo que uma parcela considerável da população ascendesse à “classe média”. Essa classe ascendente aponta para um fato semântico interessante: ao aparecer reescriturada, tanto em publicações oficiais como em textos de divulgação midiática, por “classe C” ou mesmo por “nova classe C”, revela um modo de divisão que se estabelece pela nomeação: há uma classe média tradicional a que se acopla uma classe emergente, a “classe C”? Ou a ascensão econômica produz uma nova classe média no Brasil? E ainda, de maior interesse para o meu objetivo aqui, como é significado o pertencimento a uma classe, ou seja, como essa classe aparece identificada nos diversos textos produzidos por diferentes instâncias institucionais, entre elas, a mídia? Recorto, para fins analíticos, a reportagem “Ela empurra o crescimento”, publicada na revista Veja, de 02 de abril de 2008 e observo, a partir de minha filiação à perspectiva teórica da Semântica do Acontecimento: 1) a reescrituração do nome “classe C” no texto, tomado aqui como um acontecimento enunciativo; 2) a articulação do nome e, por fim, 3) o direcionamento argumentativo do texto. Mostro, pelo movimento analítico da designação do nome e da argumentação do texto, como se produzem sentidos que identificam os sujeitos a partir de sua inclusão em uma dada categoria sociológica, a de classe social. Pela análise da argumentação, mostro o movimento de sentidos que estabelece um conjunto de predicações para o nome e como esse conjunto funciona na passagem dos argumentos à conclusão. Se, por um lado, a “classe C” aparece como responsável por grandes mudanças no cenário nacional, por outro, ela significa como parasitária do Estado, à medida que identifica sujeitos que se beneficiam dos programas sociais do governo. Esse movimento analítico só é possível quando faço intervir a relação da designação com o direcionamento argumentativo do texto. |