62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Triagens e misturas pelos caminhos do Brasil: uma leitura semiótica de Abril Despedaçado, Cidade de Deus, Dois Filhos de Francisco e O Palhaço |
Autor(es): | Mônica Baltazar Diniz Signori. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | sincretismo, sincretismo, brasilidade |
Resumo |
No âmbito do projeto de pesquisa “A cara do Brasil no terceiro milênio: uma análise semiótica do cinema nacional”, propõe-se a apresentação de uma leitura de quatro trabalhos que, respectivamente nos anos 2002, 2003/2004, 2006 e 2013, foram selecionados pelo Brasil para concorrerem a uma vaga na disputa ao OSCAR de melhor filme estrangeiro: Abril Despedaçado, de Walter Salles, Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, Dois Filhos de Francisco, de Breno Silveira e O Palhaço, de Selton Mello. Considerando que a seleção desses filmes avalia não apenas a qualidade da filmografia brasileira, mas também a imagem do país que se pretende mostrar, objetivamos verificar de que maneira a figurativização dessas produções é reveladora de uma identidade nacional. Observamos nos quatro filmes operações de mistura e de triagem que, no plano do conteúdo, remetem às relações da sociedade brasileira e que se expressam, em especial, por meio dos recursos da linguagem visual. Assim considerados, evidencia-se uma aproximação entre Abril Despedaçado e Dois Filhos de Francisco pela mistura do homem à terra, efeito obtido por meio do marrom que se mescla à pele humana queimada pelo Sol e coberta por vestes empoeiradas de algodão cru. O mesmo efeito aproxima esses dois filmes de Cidade de Deus, em especial de sua primeira fase em que, ao lado de semelhantes configurações cromáticas, sobressaem-se os mecanismos topológicos que marcam o isolamento, a triagem de uma parcela da população brasileira que, insulada pela imensidão de espaços vazios, é segregada “no meio do nada”, expressão verbal que se repete em Cidade de Deus e em Abril Despedaçado. Em meio à triagem dessa população isolada em lugares delimitados pelo “nada” se constrói um jogo de mistura entre ser humano e espaço, fixando o brasileiro na tradição, na rotina, interrompida em momentos visualmente marcados pelo céu brilhantemente azul, que se destaca do marrom-avermelhado. O rompimento da rotina, porém, não institui propriamente uma nova ordem no estado de coisas, mas caracteriza escapes de estados de alma que, pelas margens de um país empoeirado, vai construindo momentos de parada: entra em cena O Palhaço, com seu circo “Esperança”, revolvendo a mistura forjada na triagem, ao lado do circo “O Riso da Terra”, de Abril Despedaçado, da música de Dois Filhos de Francisco e da fotografia de Cidade de Deus, recursos artísticos que permitem, ainda que por instantes, a construção de um novo olhar sobre o cenário sociocultural brasileiro. |