62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | A enchente como imagem distópica em Lobivar Matos |
Autor(es): | Ramiro Giroldo. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 08/10/2024 |
Palavra-chave | Lobivar Matos, Lobivar Matos, Sigmund Freud |
Resumo |
A comunicação proposta aborda a imagem da enchente em poemas de Lobivar Matos, poeta corumbaense alinhado ao movimento modernista e falecido precocemente aos 32 anos. Os poemas selecionados pelo recorte lidam tematicamente com a enchente, incorporando-a à linguagem poética e dotando-a de novas significações, e fazem parte de duas antologias, Areôtorare – poemas boróros (1935) e Sarobá – poemas (1936). Neles, a enchente que acomete Corumbá periodicamente se apresenta como um elemento que desestabiliza o homem e impõe obstáculos à quietude do horizonte utópico. Formalmente, os poemas enfatizam o caráter repetitivo do ciclo da enchente, que todos os anos retorna para destruir e obrigar uma subsequente restauração. O homem se situa em um terreno instável, à mercê das forças da natureza estranhas e nocivas. A abordagem toma como ponto de partida a etimologia da palavra “utopia” e recorre a considerações acerca da variedade subversiva da utopia, a distopia. Ambos os conceitos serão no trabalho compreendidos de acordo com as noções de Darko Suvin, segundo as quais a utopia e seus matizes se manifestam como uma formulação verbal, e não como um conceito etéreo de difícil apreensão ou materialidade. É por meio da distopia que se pode compreender melhor a negatividade que Lobivar Matos dirige ao elemento natural. Em Matos, a abundância da natureza não traz apenas benefícios ao homem, mas também adversidades: o rio que nutre, afinal, é o mesmo que vai trazer a devastadora enchente. Configura-se uma circunstância dotada de grande ambiguidade: ao mesmo tempo em que o corumbaense extrai do rio seu sustento e constrói pelos meios oferecidos por ele, também é o rio que se volta ciclicamente para destruir o que ele próprio teria ajudado a construir. Proporciona uma situação de quietude e prazer para depois acabar com ela, trazendo a instabilidade e o desprazer. O aporte do trabalho é fornecido por Sigmund Freud, em suas formulações sobre a relação entre prazer e quietude, e pela ainda pouco volumosa fortuna crítica de Lobivar Matos. |