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Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: O estilo de uma época: o imaginário de Flaubert e Tolstói
Autor(es): Rafhael Borgato. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024
Palavra-chave Romance realista, Romance realista, Tolstói
Resumo

No texto Discurso na vida e discurso na arte, Voloshinov afirma que um estudo sociológico da literatura deveria levar em conta a estrutura imanente da obra, a maneira como fatores extra-artísticos (como o meio social) influem na forma artística. Para Voloshinov, o meio social afeta a obra de arte, sendo que o estético é uma variedade do social. Partindo dessa ideia, este trabalho tem o objetivo de realizar uma leitura do diálogo estabelecido entre os romances Madame Bovary, de Gustave Flaubert e Anna Kariênina, de Liev Tolstói, sob a perspectiva do conceito de imaginário, da forma como este é abordado por Karlheinz Stierle no livro A ficçãoInteressa-nos aqui a ideia de que o fictício é o ato de realização, a forma que assume o imaginário como momento de trangressão do real. Analisamos o modo como se conjugam sociedade e indivíduo nesse caso, visto que, partindo de um imaginário coletivo que se manifesta na organização social de um tempo específico (no caso, a sociedade burguesa do século XIX), cada um dos autores realiza uma leitura de seu espaço e de seu tempo, compondo seu próprio imaginário (pessoal, individual) que se manifesta na obra literária. Portanto, vemos essa expressão de um conteúdo individual que se expressa em meio ao coletivo e compartilha um estilo (o estilo de uma época) como a chave para a compreensão da proximidade entre as obras. Além de nos voltarmos aos pontos de contato entre os romances, o conceito de imaginário também nos permite interpretar as diferenças no ato de composição de cada uma delas, considerando, da mesma forma, a influência de fatores extra-artísticos no produto estético. Com Madame Bovary, Flaubert inaugura um estilo, opondo-se ao ideário romântico então vigente e buscando um tratamento da linguagem que represente melhor as contradições internas de seu tempo. Tolstói, por sua vez, é um dos herdeiros do estilo que se inicia com Flaubert. Contudo, vemos particularidades de sua obra que se justificam pelo meio em que se insere (pensar a Rússia oitocentista literariamente é diferente de representar a França do mesmo período). Além disso, notamos que o imaginário pessoal, a forma como Tolstói filtra o meio e o tempo em que vive, difere da experiência de Flaubert, ocasionando, assim, uma obra que consegue se fazer original, apesar de compartilhar o estilo elaborado pelo autor francês. (FAPESP - processo 2012/22089-0)