62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Usos do advérbio ainda no português à luz da gramática discursivo-funcional |
Autor(es): | Michel Gustavo Fontes. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | multifuncionalidade, multifuncionalidade, Gramática Discursivo-Funcional |
Resumo |
Em trabalho anterior, propusemos dois valores para o advérbio ainda: aspecto e polaridade. Em seu uso aspectual, ainda especifica a constituição temporal interna de um evento, isto é, ele não localiza o evento descrito em algum ponto do tempo, mas marca a continuidade ou a persistência, no tempo, do evento descrito (aspecto imperfectivo), como em eles gostam ainda desse tipo de formalidade. Já em seu uso polar, ainda conjuga valores binários, ora marcando, por pressuposição, um evento negativo que antecipa um positivo, como em eu ainda enlouqueço (eu não estou louco, mas ficarei), ora indicando um valor positivo que antecede um evento negativo, como em a estrada ainda estava em terraplenagem (a estrada estava em terraplenagem, mas não estaria futuramente). Dando continuidade a essa reflexão, o propósito central do trabalho que aqui se apresenta é descrever os diferentes usos de ainda enquanto item adverbial à luz dos princípios teórico-metodológicos da Gramática Discursivo-Funcional (doravante GDF), conforme proposta por Hengeveld e Mackenzie (2008). Nossa hipótese é a de que, no português contemporâneo, pode-se, com base em propriedades funcionais e formais, distinguir usos aspectuais, temporais e polares do advérbio ainda. Tal proposta vai de encontro às considerações de autores como Van der Auwera (1998), Van Baar (1997) e Hengeveld e Mackenzie (2008). Van der Auwera (1998), por exemplo, caracteriza os itens still, yet, not yet e already do inglês como adverbiais fasais, já que expressam a continuidade/descontinuidade ou a existência/inexistência de um evento. Van Baar (1997), por outro lado, analisa-os como itens de polaridade fasal por integrarem sentenças em que uma determinada situação é contrastada com seu oposto de uma perspectiva polar, e as duas situações são relacionadas contínua ou sequencialmente. Hengeveld e Mackenzie (2008), por fim, afirmam que muitas partículas fasais podem vir a expressar certos tipos de polaridade. Como aspecto, tempo e polaridade são categorias de natureza semântica, nossa análise se concentra nos níveis Representacional e Morfossintático da GDF e busca, dessa forma, mapear propriedades funcionais (como camada de atuação do item no Nível Representacional, natureza da predicação e restrições de co-ocorrência do item com certos tempos verbais) e formais (como a posição assumida pelo item na oração) que permitem distinguir esses três diferentes usos de ainda. Como material de análise, recorremos a dados extraídos do Córpus do Português (cf. DAVIES; FERREIRA, 2006). |