62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | A natureza semântica do verbo da oração matriz em estruturas complexas de uso factivo/implicativo no português do Brasil |
Autor(es): | Eliana Cristina Domingos. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | construções completivas, construções completivas, verbos factivos verbos implicativos |
Resumo |
Este trabalho discute os factivos, propostos por Kiparsky e Kiparsky (1970), e os implicativos, estudados amplamente por Karttunen (1973, 1971a, 1971b, 1970), que são verbos que possuem uma de suas posições argumentais preenchidas com um complemento oracional e estabelecem, em relação a esses complementos, determinadas relações semânticas de pressuposição (verbos factivos) ou de implicação (verbos implicativos), as quais apontam, respectivamente, para uma leitura marcada para a verdade e para a realização/não-realização efetiva do conteúdo contido no complemento. Considerando que essas propostas semânticas foram elaboradas no início da década de 1970, no auge da teoria gerativa, e que o arcabouço teórico em que se fundamenta esta abordagem remete a pontos do funcionalismo desenvolvidos por Dik (1989, 1997), propõe-se um tratamento dessas categorias verbais sem referência a (ou utilização de) termos que não se orientem pelo aporte funcionalista. Pela análise do escopo de operadores (meios gramaticais), como a negação e os modais, identificam-se, para o português brasileiro, os possíveis predicados verbais de uso factivo e de uso implicativo. O escopo desses meios gramaticais aliado à análise do escopo de satélites (meios lexicais) temporais e locativos permite estabelecer que as relações de factividade e de implicação começam a se instaurar, respectivamente, no nível da proposição e da predicação, conforme o modelo de análise da oração em camadas formulado por Dik (1989). Demonstra-se, também, que essas categorias verbais não são discretas, podendo-se observar uma fluidez de significado, posto que um mesmo predicado, como SABER, pode transitar por quase todas as subclasses semânticas estudadas. A categoria gramatical de modo (indicativo ou subjuntivo) da construção completiva revela que os factivos do português brasileiro podem fornecer uma leitura de não-pressuposição de verdade de seus complementos oracionais, caso em que o verbo encaixado figura no modo indicativo. Essa evidência resulta na conclusão de que esses tipos devem ser mais apropriadamente chamados de predicados de aquisição/perda de conhecimento ou de predicados de percepção passíveis de estabelecer uma relação factual com seus complementos, do que serem chamados propriamente de factivos. As ocorrências constitutivas da base de dados representam recortes de textos escritos do português contemporâneo brasileiro extraídos do Banco de Dados do Laboratório de Lexicografia da Universidade Estadual Paulista de Araraquara. Realiza-se o tratamento quantitativo dos dados da pesquisa com o auxílio do programa computacional Goldvarb (2001), empregando apenas suas etapas iniciais, posto que integração de orações não se configura como um fenômeno linguístico variável. |