62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | A natureza das fontes em historiografia linguística e os dicionários de Lima (1821) e Amorim (1878) |
Autor(es): | Maria Mercedes Saraiva Hackerott. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | historiografia linguística, historiografia linguística, língua portuguesa |
Resumo |
A pesquisa em Historiografia Linguística investiga como o conhecimento linguístico foi formulado, modificado e comunicado no decorrer do tempo. Nesses estudos, os compêndios gramaticais e os dicionários tem sido considerados fontes canônicas, por serem gêneros que priorizam a reflexão sobre a língua e a linguagem. Swiggers (1990) reconhece três níveis de formulação dos saberes linguísticos: o conhecimento linguístico que é expresso sem chegar a ser um conceito formal; a reflexão sobre o conhecimento linguístico que evidencia a elaboração de conceitos; e a metarreflexão sobre o conhecimento linguístico que apresenta especificidades temáticas formalizadas em teorias. Para examinar essa gradação e mostrar a importância de fontes que registram simplesmente o conhecimento linguístico, a presente comunicação analisará dois dicionários do século XIX: Lima (1821) e Amorim (1878). Ambos têm em comum a sátira, isto é, os verbetes são constituídos por uma técnica que ridiculariza o termo de entrada do verbete, como forma de intervenção política, social ou moral. Escritos em linguagem jocosa, constituída principalmente pela ironia, os verbetes revelam uma reflexão sobre a linguagem, apontando sinonímias, indicando diferentes grafias para um mesmo termo e principalmente mostrando não o significado denotativo das palavras mas o emprego figurado que essas palavras adquiriram na interação social. O primeiro dicionário intitulado Diccionario Carcundatico ou explicação das phrazes dos carcundas é de autoria do Segundo Tenente da Armada Nacional José Joaquim Lopes de Lima (1797-1852) que viveu no Brasil durante o primeiro quartel do século XIX e veio a falecer em viagem ao Timor. Esse dicionário tem apenas 70 verbetes e foi complementado com mais 46 verbetes no Supplemento ao dicionário-carcundatico. Tanto o dicionário quanto o suplemento foram impressos em 1821 no Rio de Janeiro pela Imprensa Nacional. A denominação “carcunda” era atribuída aos adversários do liberalismo constitucional e, no Brasil, aos opositores da independência. O segundo dicionário, com 1028 verbetes, data de 1878 e foi publicado pela Imprensa Nacional em Lisboa com o título: Diccionario de João Fernandes. Lições de lingua portugueza pelos processos novos ao alcance de todas as classes de Portugal e Brazil. Atribui-se o pseudônimo João Fernandes ao português Francisco Gomes Amorim (1827-1891), que viveu no Brasil entre 1837 e 1846. No prefácio, o autor referenda como fonte inspiradora a obra Le Carnaval du Dictionnnaire publicada em 1874 em Paris por Michel Levy e de autoria de Pierre Véron (1831-1900) com 24 desenhos do cartunista Paul Hadol (1835-1875). |