62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | Ressonâncias psiquiátricas em Diário do hospício, de Lima Barreto |
Autor(es): | José Radamés Benevides de Melo. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 08/10/2024 |
Palavra-chave | dialogismo, dialogismo, psiquiatria |
Resumo |
De 1852 a 1907, o Brasil assiste, no âmbito da psiquiatria, ao processo de instituição/institucionalização de hospícios em várias províncias do Império, à criação, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, da cadeira de Clínica Psiquiátrica, a uma proliferação de teses defendidas na cadeira de Psiquiatria e Moléstias Nervosas dessa mesma faculdade, a uma ascendente circulação de artigos e memórias sobre alienação mental publicados em periódicos de medicina, psiquiatria e medicina legal e à fundação da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal. É evidente que toda essa movimentação em torno da loucura, da psiquiatria e da hospitalização (hospícios) deixaria suas marcas na história e não passaria ilesa às lentes argutas e perspicazes do jornalismo, da literatura e da própria academia. É nesse contexto que se situa Diário do hospício, de Lima Barreto, escrito durante sua internação, em 1919/1920, no Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro, e que, considerando-o enquanto enunciado, tomamos como corpus de análise. Assim, uma vez que partilhamos a tese do Círculo de Bakhtin de que a linguagem é constitutivamente dialógica, pressupomos que Lima Barreto, por meio do diálogo com sujeitos e vozes sociais do campo médico-psiquiátrico, cria material verbo-axiológico no processo de elaboração literária de seu Diário do hospício. A partir daí, levantamos a seguinte questão de pesquisa: como as relações dialógicas com os discursos psiquiátricos brasileiros de fins do século XIX e do início do século XX constituem os sentidos do discurso sobre a psiquiatria em Diário do hospício, de Lima Barreto, na cadeia enunciativa por eles formada? Dessa pergunta, derivam nossos objetivos de investigação: 1) identificar os discursos psiquiátricos dialogizados no enunciado que compõe nosso corpus; 2) examinar as relações dialógicas entre esses discursos e Diário do hospício; e 3) analisar as determinações de tais relações no discurso sobre a psiquiatria. Para atingirmos esses objetivos, lançaremos mão de procedimentos metalinguísticos de análise tais como definidos por Bakhtin (2010, 2011), principalmente os concernentes ao confronto dos sentidos e ao embate dialógico entre enunciados, opiniões, pontos de vista (elementos mediadores das relações dialógicas), na integralidade de uma cadeia discursiva (no interior da qual se situam os enunciados limabarretianos e os psiquiátricos) como elemento participante da comunicação socioideológica, em que alteridade e responsividade figuram como traços constitutivos. |