62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | O diário íntimo como gênero textual: da antiguidade clássica ao século XVIII |
Autor(es): | Adriana Batista Lins Benevides. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | diário íntimo, diário íntimo, público e privado |
Resumo |
Os diários são gêneros textuais responsáveis por eternizarem fatos, acontecimentos, ideias, pensamentos etc. de um determinado tempo e espaço. Adormecidos, escondidos em armários, guarda-roupas, gavetas, estantes, os diários revelam-se fontes de investigação aos pesquisadores. Tais documentos permitem ao estudioso da História da Cultura Escrita um determinado conhecimento de como pessoas consideradas comuns, simples, registram seu cotidiano através de práticas de escrita biográfica e autobiográfica (CUNHA, 2007). A partir disso, começamos nossa reflexão recorrendo ao pensamento do filósofo Mikhail Bakhtin (1988), no seu ensaio: Formas de tempo e de cronotopo no romance: ensaios de poética histórica, especificamente no capítulo dedicado às biografia e autobiografia antigas. Nesse texto, o autor reflete, entre outros aspectos, sobre o longo percurso de constituição das formas textuais privadas. Ao analisar o cronotopo das biografias antigas, informa-nos que, embora a Antiguidade Clássica não tenha conhecido romances biográficos e autobiográficos, deixou-nos como herança formas genéricas que influenciaram a elaboração dos romances de épocas posteriores; e, ao nosso ver, formas que influíram na constituição de diários íntimos enquanto gênero. Para desenvolver sua argumentação, Bakhtin relata que as biografias e autobiografias antigas possuíam uma ligação estreita com a vida coletiva que os homens levavam nos mundos helênico e romano, como, por exemplo, o encômio. Eram também textos ligados à ancestralidade da família e aos quais seus membros tinham acesso. Já Philippe Ariès, em seu ensaio Por uma história da vida privada (2009), revela-nos como ocorre a passagem do público para o privado através de diferentes abordagens, fatos e categorias. Com o intuito de compreender como se traça, do século XVI ao XVIII, as fronteiras entre o privado e o público, Ariès elenca as três evoluções essenciais que trouxeram grandes mudanças para as sociedades do Ocidente: o novo papel desempenhado pelo Estado, as Reformas religiosas e, por último, o desenvolvimento da leitura e da escrita. Diante de tais reflexões, nosso objetivo, nesta comunicação, é pensar o diário íntimo como gênero textual na relação com as esferas pública e privada e com a tradição dos gêneros biográfico e autobiográfico, no período que vai da Antiguidade ao século XVIII. Para atingirmos esse objetivo, valer-nos-emos do aparato teórico-metodológico proposto pelo campo da História da Cultura Escrita, a partir das reflexões desenvolvidas por Ariès (2009), Bakhtin (1988), Cunha (2009), Castan (2009), Didier (1996), Foisil (2009), Freixas (1996), Girard (1996) e Lejeune (1996). |