62º SEMINáRIO DO GEL - 2014 | |
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Título: | A Semiologia imanente de Saussure como epistemologia do conhecimento |
Autor(es): | Waldir Beividas. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024 |
Palavra-chave | Semiologia, Semiologia, epistemologia |
Resumo |
Decorre do princípio de arbitrariedade do signo em Saussure, isto é, do ato semiológico que acopla significante a significado uma premissa fundamental, melhor, uma tese fundamental : não é o pensamento que cria o signo, mas sim é o signo que “guia primordialmente o pensamento (então o cria em realidade...)” (Écrits : 46). A extensão máxima desse entendimento, ou dessa tese, impõe que é também apenas através do signo – linguístico por preponderância, mas não por exclusividade – que toda a realidade objetiva do mundo ou subjetiva do homem possa ser tida como tal. Noutros termos, a Semiologia acaba se revelando como uma « epistemologia imanente » do conhecimento possível das coisas. Imanência aqui passa a significar algo de maior alcance do que o simples e tradicional entendimento seu como « disciplina metodológica » de descrição das linguagens por seus fatores e estruturações « internas ». Esse maior alcance da Semiologia imanente implica duas consequências de grande envergadura filosófica e mesmo epistemológica: (i) não há chance de uma « ontologia realista » fora e independente da linguagem pois, caso houvesse, a única maneira de alcançá-la seria obter um “raciocínio” integralmente a-linguageiro, sem fazer uso de signo algum. Nem a matemática mais abstrata e pura consegue o feito; (ii) por sua vez, a Semiologia imanente implica igualmente que nenhuma operação do espírito possa ser tida integralmente de modo « transcendental » à linguagem pois a única maneira de conseguir tal intento seria a de um pensamento « puro », sem expressão. Nenhuma mente por aguda e brilhante que seja consegue manter-se um átimo qualquer em tal estado; nenhum conhecimento pode pois daí advir. Não é portanto sustentável pensar alguma ciência realista como « conhecimento do mundo » ou alguma filosofia transcendental como « conhecimento do ser », fora, independente, aquém ou além da linguagem. Filosofia e ciência – para englobar simplificada mas não exclusivamente nos dois todas as possíveis formas do conhecimento humano – não têm como contornarem a condição humana linguageira de só poderem se definir como « operação sob signos » que ambas, ciência e filosofia, criam e recriam em seus discursos, os quais recortam e categorizam seus objetos que, por sua vez, vão compor a « realidade » disponível para ambos e para todos. A linguística e a semiótica ainda não exploraram todo o potencial epistemológico da Semiologia saussuriana. Urgem esforços cognitivos nessa direção. |