Programação do 62º seminário do GEL

Os dispositivos teóricos da Análise do Discurso Franco-Brasileira (Pêcheux-Orlandi) mostraram sua solidez ao continuarem respondendo muito satisfatoriamente às questões lançadas pelas novas práticas discursivas que tiveram lugar nas últimas décadas, quando assistimos a mudanças de registro e arquivo, expansão de novas materialidades, consolidação de outros modos de leitura e de produção das escritas, e transformações nos âmbitos da constituição, formulação e constituição de sentidos. A cultura em rede se ampliou e hoje avança sobre práticas discursivas antigas, incorporando-as ou transformando-as em novas maneiras de dizer e de saber, com implicações significativas no próprio modo como as pessoas se reconhecem hoje como sujeitos da/na linguagem. Uma novidade, no entanto, chama a atenção: a brutal disponibilização de fontes, de textos e textualidades, e de novos dispositivos de agregação de conteúdo (portais e mídias sociais, por exemplo), que acabaram por permitir a vocalização de atores sociais antes circunscritos a universos geograficamente reduzidos. Isso trouxe possibilidades inéditas para a extensão das pesquisas discursivas tanto no sentido temporal – com a digitalização e disponibilização de arquivos mais antigos - quanto no sentido sincrônico – com a possibilidade de ampliar o raio de ocorrências concomitantes num dado processo discursivo. Ao mesmo tempo surgiram softwares que conseguem capturar e efetuar recortes e coletas de extenso material linguístico e visual a partir de comandos pré-determinados pelo pesquisador. No nosso caso, estamos experimentando o NVivo, um processador de textos e imagens, para efetuar a fase inicial de coleta de sequencias textuais de material referente a estudos discursivos no âmbito da Comunicação & Saúde. São os resultados destes estudos que pretendemos mostrar neste simpósio. Um pressuposto metodológico é que o uso de tal ferramenta é apenas um ponto de partido – embora de enorme utilidade para o tratamento de corpora –visto que o exercício intelectual do analista jamais poderá ser suplantado pelo programa. Portanto, não se trata da retomada de uma suposta “análise automática”, mas de trazer para a AD instrumentos que possam contribuir para o enfrentamento de novos desafios e alargamento do seu campo de ação.