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Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: A linguagem pessoal multigênero: o legado do diário de Juca Teles
Autor(es): NATHALIA REIS FERNANDES, Marcelo Módolo. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024
Palavra-chave crítica textual de manuscritos modernos, crítica textual de manuscritos modernos, variantes linguísticas
Resumo

Como o autor se comportaria quando um mesmo documento por ele produzido oscilasse entre diversos gêneros? Tendo, como base material, documentos históricos da cidade de São Luiz do Paraitinga – SP – mais especificamente, os diários deixados por Benedicto de Souza Pinto, o famoso Juca Teles, oficial de justiça e figura folclórica da cidade –, temos a oportunidade de verificar em que medida o material pode ser trabalhado de modo a deixar entrever essa oscilação de linguagem, o que pode ser de uma riqueza incomparável não só para o estudo linguístico, mas também para a história, que poderá também ser reconstruída a partir de uma série de recortes isolados de poesia, textos de diário e descrição de ações judiciais. Essa diferença tão marcante de gênero em um mesmo material, produzido pela mesma pessoa, levanta uma série de questões interessantes que merecem análise cuidadosa. Juca Teles residia numa cidade que estava longe dos grandes centros urbanos e que já não mais tinha o mesmo viço e importância econômica de antes. Logo, sua escrita poderia carregar traços diferenciados (provavelmente antiquados) em relação a textos provenientes de outros locais (notadamente São Paulo, que, à época em que os textos foram escritos – fins da década de 1940 e início da década de 1950 –, já era uma grande cidade). Além disso, era um oficial de justiça, e poderia ser influenciado em suas anotações pelas características próprias da linguagem formal:

“Falou por ultimo Benedicto de Souza Pinto, amigodo homenageado Representando a famílía de Juca Teles do sertão das Cotias, presente e sua mulher Nha Fabiana e os sertaneginhos que se achavam presente e cujos nomes a prímeira letra de seu nome forma o de Higino, cantou ao microfoni os seguintes versos: [...]”

A partir dessas informações e considerações, o trabalho pretende comparar os gêneros que fazem parte do diário de Juca Teles. E, com base nas semelhanças e diferenças encontradas, chamar a atenção para detalhes que refletem não só a formação acadêmica do escrevinhador, mas também os usos e costumes vigentes na linguagem da São Luiz do Paraitinga dos anos 40 e 50. A relevância desse trabalho está na fixação, ainda que primária, de uma espécie de “gramática” contida nos gêneros constantes do diário, que pode refletir uma outra, de uma cidade muito conhecida pela preservação de usos e costumes muito antigos, que podem, eventualmente, ter perdurado na linguagem pessoal de Juca Teles.