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Programação do 62º seminário do GEL


62º SEMINáRIO DO GEL - 2014
Título: A representação da memória no preâmbulo de A paixão segundo GH: recursos e implicações
Autor(es): Marília Gabriela Malavolta Pinho. In: SEMINÁRIO DO GEL, 62 , 2014, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2014. Acesso em: 21/11/2024
Palavra-chave Clarice Lispector, Narração, Fragmentação e Memória
Resumo No dia seguinte à saída da empregada Janair, G.H. – narradora autodiegética do romance A paixão segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector – vai até o quarto recentemente desocupado e é surpreendida por uma barata à porta de um guarda-roupa. Olha-a minuciosamente. Mastiga-a. Tal experiência, profundamente interior, é-lhe de valor ascético. No dia seguinte, G.H. põe-se a narrá-la; antes, narra as extremas dificuldade e necessidade de fazê-lo. A narração da história primeira inicia-se no segundo capítulo, ainda muito evasiva, fragmentária, e segue intercalada com o presente da narração. O presente da narração, por sua vez, versa justamente sobre a penosa aproximação – realizada pela via da linguagem – rumo ao acontecimento vivido, o que se dá seja através de insólitas metáforas, seja através de interrogações e intransitividades, seja através de explicitações acerca da dificuldade em se contar tal matéria. Nele, ganha representação a ação da memória, tal como foi concebida por Freud em O Bloco Mágico, bem como outros recursos característicos do método analítico freudiano. Segundo Freud, o aparelho perceptual de nossa mente é formado por uma camada externa, que nos protege contra a intensidade de estímulos recebidos incessantemente, e por uma superfície final, receptora dos estímulos, identificada por ele como “o sistema Pept.-Cs.” Esta superfície por detrás registra traços mnêmicos permanentes que, em processo retroativo, são passíveis de alteração. Essas duas camadas representativas do modo como, segundo ele, funciona nosso aparelho perceptual mental têm funcionamento semelhante ao do brinquedo infantil “bloco mágico” que “fornece não apenas uma superfície receptiva, utilizável repetidas vezes como uma lousa, mas também traços permanentes do que foi escrito.” A diferença essencial é que, “uma vez apagada a escrita, o Bloco Mágico não a pode ‘reproduzir’ desde dentro” (FREUD, 1974: 289), como o pode nossa memória, através do movimento retroativo do inconsciente. A presente comunicação visa fundamentalmente a fazer uma apresentação do primeiro capítulo do referido romance de Clarice Lispector ancorada nestas premissas de Freud e em “A teoria da memória em Freud”, de Daisy Wajnberg, uma vez que neste início são postos os termos de toda narração que, no presente, põe-se a re-criar o episódio vivido no dia anterior. Pretende-se expor as representações desses recursos bem como suas implicações no romance.