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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Nâo olhes para trás: luto, melancolia e morte em Nossos Ossos
Autor(es): ROSANA CRISTINA ZANELATTO SANTOS. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Heri, Melancolia, Morte
Resumo

NÃO OLHES PARA TRÁS: LUTO, MELANCOLIA E MORTE EM NOSSOS OSSOS

A literatura contemporânea transita por outras artes que não ela própria, fazendo uso de artifícios do   teatro, do cinema, da iconografia, da música. Sabemos que não é um trânsito alheio a ela em outros tempos, porém, hoje ela o faz de modo dissimuladamente (in)consciente, deixando transparecer para o leitor essas passagens/paisagens plenas da nebulosidade das palavras. Em Nossos ossos, de Marcelino Freire, Heleno, o dramaturgo que tenta encenar seu luto de ex-ilado na cidade de São Paulo, porém cai na melancolia do retorno à terra natal, performatiza, na morte de Cícero, o ensaio de sua própria morte. Há, nos textos literários contemporâneos, como que uma vontade de luto – segundo Freud no ensaio Luto e melancolia (2010, p.172), ele é uma “[...] reação à perda de uma pessoa amada ou de uma abstração que ocupa seu lugar, como pátria, liberdade, um ideal, etc.” (FREUD, 2010, p. 172) –, encenada por Heleno em Nossos Ossos pela perda de si mesmo. Se ele se tornou alguém de prestígio na metrópole, por outro lado, depara-se com uma lembrança de si na figura de Cícero e de outros "boys". Instaura-se então a melancolia, “[...] um abatimento doloroso, uma cessação de interesse pelo mundo exterior [...]” (FREUD, 2010, p. 172) que podem levar à punição. O corpo morto de Cícero personifica o desejo de falar sobre aquilo que aprioristicamente seria irrepresentável: a morte. Paradoxalmente, Lacan nos lembra de que é sobre aquilo que não se consegue falar que mais se fala. Se a morte é uma dessas coisas inenarráveis, que a encurralemos e tentemos controlá-la pelas palavras. A viagem de retorno de Heleno é o tempo de que ele precisa para entender o próximo estágio de sua vida – a morte – e tentar compreender o que foi feito de si na cidade grande, narrando sua experiência, quase finda, de sobrevivente.