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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Uma formação discursiva sobre a língua portuguesa
Autor(es): Heloisa Mara Mendes. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Anlise do discurso , Formao discursiva, Discurso sobre a lngua portuguesa no Brasil
Resumo

Neste trabalho, pretendemos descrever/analisar um conjunto de textos que, a nosso ver, constitui, no Brasil, uma formação discursiva sobre a língua portuguesa, fundamentando-nos na recategorização da noção de formação discursiva proposta por Dominique Maingueneau em Unidades tópicas e não tópicas, primeiro capítulo de Cenas de enunciação (2006). Para esse autor, o discurso racista é um exemplo de formação discursiva; sua delimitação e estudo requerem a constituição de um corpus heterogêneo, cujos textos de gêneros diversos apresentam um foco único que os torna convergentes. Partindo, de um lado, de uma evidência mais histórica (a emergência de polêmicas em torno da língua portuguesa que, frequentemente, ocupam os mais diversos campos discursivos) e, de outro lado, da análise de um conjunto de textos, trabalhamos com a hipótese de que há, no Brasil, um discurso dominante sobre a língua portuguesa que pode ser descrito como uma formação discursiva do bom uso da língua portuguesa. Na tentativa de comprovarmos essa hipótese, nos debruçamos sobre uma temporalidade (o período compreendido entre os séculos XVI e XXI), sobre vários campos discursivos, entre eles, o político, o literário, o midiático e o escolar, assim como sobre diferentes gêneros, procurando enumerar os traços semânticos que os estruturam. Buscamos demonstrar que, ao longo do tempo e por trás da diversidade de gêneros discursivos e posicionamentos que sustentam os textos que recortamos para análise, há a onipresença de um “discurso sobre o bom uso da língua portuguesa” inconsciente que dirige a fala de seus locutores. As análises realizadas atestam que durante, aproximadamente, cinco 
séculos, os temas centrais que fomentam as discussões sobre a língua portuguesa vão se alterando, passam da diferenciação linguística entre Brasil e Portugal para a defesa de uma literatura e uma língua “genuinamente” nacionais, agregam elementos ligados ao paradigma de cientificidade, sem, no entanto, desviar-se da assunção de que há um bom uso da língua portuguesa. Em todas as épocas, também, há um grupo ou grupos bem definidos (os intelectuais, os barões doutos, os especialistas, os escritores, os professores de português) que podem dizer esse bom uso, na maioria das vezes, reconhecido como a língua. E, embora o paradigma de cientificidade que marcou o século XX tenha, em alguma medida, impulsionado, sob a dicotomia gramática/linguística, o tratamento das questões relacionadas aos fatos linguísticos e ampliado a noção de língua, isso não foi suficiente para que o discurso sobre a língua portuguesa, no Brasil, ganhasse contornos completamente diferentes.