Programação do 63º seminário do GEL

A ampliação do acesso ao Ensino Superior no Brasil vem sido favorecida nos últimos anos pelo desenvolvimento de ações para entrada e permanência, tanto em instituições de nível privado, por exemplo, com o FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) e o PROUNI (Programa Universidade para Todos), quanto público, com o ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar Superior) e a Lei de Cotas (nº 12.711/2012), entre outras. Se por um lado, a elevação do número de ingressantes nas universidades brasileiras beneficia a educação e os sujeitos, por outro lado, suscita reflexões sobre o modo como toda essa diversidade de estudantes provenientes de etnias, formações escolares, culturas e classes sociais distintas passam a conviver nas práticas de produção de gêneros acadêmicos, sobretudo, aqueles escritos e já consagrados pela tradição institucional, como artigos, resenhas e trabalhos de conclusão de curso. Nesse sentido, os estudos em Letramentos Acadêmicos têm se dedicado à compreensão dos conflitos gerados, argumentando haver práticas letradas específicas na esfera universitária que se diferenciam de outras e precisam ser entendidas a fim de permitirem a inserção plena de  sujeitos em constituição acadêmica no amplo diálogo do discurso acadêmico. A partir de tais pressupostos, justifica-se o desenvolvimento do presente trabalho que objetiva  verificar alguns dos embates existentes nesse âmbito, a partir das próprias representações de graduandos de um curso de Letras de uma universidade pública. Fundamentando-se no arcabouço teórico-metodológico dos Novos Estudos do Letramento (STREET, 1984, 2003; GEE, 1996), Letramentos Acadêmicos (LEA; STREET, 1998; LILLIS, 1999) e segundo os princípios teóricos da Linguística Aplicada, desenvolvemos pesquisa qualitativa – pertencente a um projeto maior de doutorado em andamento – cujo recorte a ser apresentado aqui se pautou na análise de enunciados multimodais (textos e imagens) elaborados por nove universitários e publicados em um grupo fechado do Facebook como resposta a atividade de disciplina da graduação que indagava sobre opiniões deles acerca das práticas letradas desenvolvidas no contexto em que viviam. Os enunciados produzidos pelos estudantes revelaram a existência de conflitos nas práticas de escrita acadêmica, principalmente, devido ao ensino não explícito dos gêneros acadêmicos e de dificuldades encontradas para a apropriação do discurso científico, que vai além da materialidade linguística das produções. Finalmente, acreditamos que tal análise e reflexão, oferecidas nesta comunicação, possam evidenciar como os letramentos são múltiplos e variados e as práticas de produção de gêneros na universidade são sociais, ultrapassando habilidades específicas de aquisição da escrita científica.