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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: MEDIAÇÃO EDITORIAL E CRIAÇÃO: O FUNCIONAMENTO DO ESPAÇO ASSOCIADO
Autor(es): luciana salazar salgado. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave discurso literrio, espao associado, midium
Resumo

A referência a processos de criação implica, no atual período, considerar a cultura remix, fundamentalmente práticas de edição que a caracterizam, pondo em relevo categorias há muito assentadas, como autor, leitor, editor, original, obra derivada, citação, plágio, direitos autorais e correlatos. Assim, investigar a produção e a circulação de objetos editoriais torna-se chave para uma abordagem discursiva desses processos. A circulação é, hoje, pedra angular dos estudos discursivos que, no quadro da tradição francesa, abrem-se para objetos típicos da contemporaneidade, nos quais os discursos se textualizam afetados pela dinâmica colaborativa. Consideramos, aqui, que essa cultura que se impõe é formulada na aceleração contemporânea, geradora de uma intensa demanda por ubiquidade, que, não sendo plenamente realizável, torna o presente insuficiente, fugidio: de um tempo tecido por simultaneidades, resulta um espaço sem fronteiras e vice-versa. Nossa hipótese de trabalho é que essa cultura está diretamente ligada a certos conjuntos de sistemas de objetos e, vivida como sensação arrebatadora, é materialmente produzida: conjuntos de dispositivos (objetos técnicos) em articulação sistêmica geram certas disposições (subjetivações) que também sobre eles recaem, numa dinâmica não só de cultivo dessa articulação, mas de verdadeiro culto. No que diz respeito ao que se tem referido por literatura, esse problema se põe emblematicamente, na medida em que o material textualizado como literário se produz num regime específico em que, entre outras coisas, operam dois espaços de produção: o canônico, reunindo textos identificados como obra literária, e o associado, que reúne toda sorte de materiais que remetem ao espaço canônico sem se confundir com ele. Nesta ocasião, apresentamos essa discussão com base numa mediação editorial que aparece contundentemente como constitutiva de uma obra que, antes dela, não existia – o que põe em que questão a fronteira entre os espaços canônico e associado, possivelmente um duplo espaço, em que o trabalho editorial “cria” uma “nova” obra: trata-se do livro Vida, com quatro biografias publicadas separadamente por Paulo Leminski ao longo dos anos 1980, pela editora Brasiliense, compiladas pela Sulina em 1990 e reeditadas em 2013 pela Compahia das Letras com um “depoimento” do autor sobre o desejo de fazer essa coleção e uma nota introdutória de Alice Ruiz, poeta também, companheira do biógrafo. Interessa observar como esses paratextos produzem uma totalidade em que o gênero biografia é apresentado numa dimensão poética que põe em xeque a própria etiquetagem literário/não-literário, produzindo o paradoxo do efeito de discurso constituinte e derivado.