Programação do 63º seminário do GEL

O presente trabalho tem com objetivo analisar o romance Quarup, de Antonio Callado, baseando-se nas reflexões e descobertas de Mikhail Bakhtin sobre a linguagem e sobre o gênero romanesco, buscando compreender a visão arquitetônica constituída nesta literatura chamada pós-64, mostrando que os elementos composicionais e formais estão ligados ao estilo constitutivamente dialogizado, pois trata-se de um posicionamento socioideológico diferenciado do autor diante dos diversos discursos inerentes à sua época. A estilística tradicional, que se aferra a uma concepção monologizante de língua, não corresponde às nossas expectativas de análise, pois consideramos que a construção do estilo não se trata de uma escolha individual e isolada, pois está ligada à estilística sociológica, ou seja, está vinculada à vida social do discurso, tendo sua forma e seu conteúdo uma determinação com o contexto social concreto, ressoando o diálogo social no próprio discurso e em todos os seus elementos, tanto em nível formal quanto de conteúdo. A obra também será analisada a partir das relações dialógicas estabelecidas pelo herói Nando ao longo da narrativa, que revelam uma ligação intrínseca com o contexto histórico e com a vida do autor-pessoa, mostrando sua posição socioideológica, em consonância com os discursos de sua época, criando interrelações entre o autor, o herói e o ouvinte. Assim chegamos à questão do estilo, que, mesmo individualizado, traz marcas da coletividade, por ter caráter social e dialógico, revelando a interlocução entre autor-criador e outros discursos com os quais dialoga, sendo constitutivo da composição do estilo individual. Desta forma, entendemos que a prosa romanesca está inserida em uma estratificação interna da linguagem, revelando a diversidade social e a divergência de vozes sociais que ela encerra, elencando uma realidade plurilinguística, pluridiscursiva e plurivocal. Tais organizações do discurso romanesco configuram as concepções sociais presentes na Literatura Brasileira do século XX, revelando suas formas exteriores, os gêneros intercalados e a pessoa que fala no romance.