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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Sobre a tradução de 1Q84 de Haruki Murakami
Autor(es): Shirlei Lica Ichisato Hashimoto. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Traduo, , Literatura Japonesa Contempornea, Haruki Murakami
Resumo

Sobre a tradução de 1Q84 de Haruki Murakami

O objetivo deste trabalho é comentar as dificuldades e as estratégias adotadas na tradução da trilogia 1Q84 (Objetiva: 2012, 2013), de Haruki Murakami (1949-), para a língua portuguesa do Brasil, num processo em que se propôs viabilizar a transferência cultural, sem perder a experiência da alteridade. As referências teóricas pautam-se em Michael Oustinoff (2003) e Lawrence Venuti (1998) que destacam o papel do tradutor que, ao enfrentar as diferenças culturais e linguísticas de um texto estrangeiro, assume, ainda que (in)conscientemente, a postura de tanto promover quanto a de reprimir a heterogeneidade na cultura doméstica. Nesse sentido, selecionamos três questões enfrentadas no processo tradutório de 1Q84: marcas tipográficas (subtexto), alternância de tempos verbais (variações entre passado e presente) e tradução de elementos culturais. No original em japonês, o autor utiliza marcas tipográficas ao longo da narrativa, isto é, duas formas de destacar palavras ou frases para criar uma espécie de subtexto: o tracejado (、、、) e o negrito. Eles estabelecem um canal de comunicação entre o narrador e o leitor ora enfatizando ou antecipando informações ou, ainda, propondo-lhe uma reflexão sobre o assunto desenvolvido no texto. O desafio de traduzir essas marcações é o de adequar a seleção lexical para que elas possam ser entendidas tanto no enunciado – no contexto da frase em que aparecem – quanto em sua leitura sequencial. Outra questão apontada refere-se às passagens em que as cenas são “presentificadas” através do uso simultâneo de vários tempos verbais que, traduzido literalmente em língua portuguesa, causaria um estranhamento no leitor por atentar contra as normas gramaticais do idioma. No entanto, as variações entre passado e presente é um recurso que privilegia a adesão quando o locutor leva o destinatário a contemplar, junto com ele, as situações a partir de um ponto de vista comum a ambos. A terceira questão levantada é a tradução dos elementos culturais. Na edição brasileira, optamos por empregar o recurso da adaptação para divulgar os termos na pronúncia original, seguida de uma explicação para preencher a falta de referencial no universo cultural dos brasileiros. Em suma, a partir das estratégias adotadas na tradução – que contemplam sobretudo questões de nível sintático, léxico e textual discursivo – buscamos promover um diálogo para discutir e ampliar as estratégias de tradução.