Programação do 63º seminário do GEL

O objetivo do presente trabalho é discutir o uso da figura retórica da ironia e seus efeitos de sentido, em especial na configuração do ethos do locutor. Para esse fim, escolhemos como amostra dois textos, ambos de Antonio Prata, publicados no jornal Folha de S. Paulo: “Guinada à direita” (03/11/2013) e “Abaixo a Ironia” (10/11/2013).

Ao observar o emprego de recursos da ironia em vários gêneros textuais, particularmente em artigos de opinião, percebemos que tal recurso mobiliza uma série de aspectos intra e extralinguísticos, os quais constroem um lugar peculiar de interação que afeta a representação discursiva dos interlocutores, o que implica, muitas vezes, repercussões midiáticas a partir dos seus efeitos.

Como fundamentação teórica, além dos Estudos Retóricos, nos basearemos na Linguística da Enunciação e na Linguística Textual, pois pretendemos analisar como a combinação de determinadas estruturas da materialidade linguística desempenha um papel relevante no processo de (des)construção da ironia.

Considerando que essa figura retórica se encontra em materialidades linguísticas que, muitas vezes, estão no tênue limite entre crítica perspicaz e ofensa gratuita, notamos que, atualmente, alguns artigos têm grande repercussão na mídia justamente por promover, de modo indireto, uma discussão sobre o alcance e a efetividade do emprego da ironia.

Desse modo, nos interessa refletir sobre como os efeitos de sentido na materialidade linguística, no processo de construção da ironia, podem suscitar vários debates, não só referentes à adequação da crítica, mas também a como a ironia atinge a construção discursiva dos interlocutores e apresenta efeitos éticos e patêmicos na argumentação no domínio jornalístico. Tal reflexão é basilar para todos aqueles que se dedicam à análise linguística e ao ensino, tanto de língua materna quanto de língua estrangeira, uma vez que permite discutir como o funcionamento linguístico pode mobilizar efeitos enunciativos e discursivos que revelam como a subjetividade na linguagem torna-se um eixo para discutir questões como identidade, alteridade e pluralidade de perspectivas.