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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: CONFLITOS COM A NOÇÃO DE PALAVRA
Autor(es): TATIANE HENRIQUE SOUSA MACHADO. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Escrita, Rasura, Segmentao grfica
Resumo

Na aquisição da escrita, a criança precisa aprender como distribuir espaços em branco para definir graficamente uma palavra. Em sua escrita, é frequente aparecerem registros de segmentação não convencional, especialmente, a hipersegmentação (presença de espaços em branco não previstos na ortografia) e a hipossegmentação (ausência de espaços em locais convencionais). Sobre isso, há uma vasta literatura. Todavia, existem, ainda, poucos estudos, como o presente, que se dedicam a analisar rasuras (apagamentos, inserções e outros gestos análogos) ligadas à segmentação. Assume-se, neste estudo, a perspectiva teórico-metodológica defendida por Capristano (2013) e Machado (2014), que, dentre outras coisas, reconhecem, nas rasuras ligadas à segmentação, um sujeito em conflito com, pelo menos, duas possibilidades de segmentação divergentes, explicitadas por dois gestos mostrados pela rasura (antes e após o rasuramento). Fundado nessa perspectiva, neste estudo, objetiva-se analisar rasuras ligadas à segmentação cujo registro após o rasuramento resulta numa escrita não convencional. A hipótese é a de que, com base nessa análise, pode-se, pelo menos em parte, reconstituir conflitos vivenciados pelo escrevente na aquisição da escrita para definir os limites da palavra (orto)gráfica. O corpus foi constituído por 1699 enunciados escritos por crianças do Ensino Fundamental I (2º ao 5º ano). Nesses enunciados, foram identificadas 364 rasuras ligadas à segmentação. Em 45 dessas rasuras, o último gesto do escrevente resultou numa escrita não convencional (hiper ou hipossegmentação). A análise permitiu verificar que, nessas rasuras, o conflito do escrevente está relacionado a diferentes possibilidades de relação entre clíticos (monossílabos não acentuados) e palavras prosódicas. Especificamente, verificou-se que, nos 26 registros hipersegmentados: (a) 34,6% correspondiam a conflitos envolvendo a relação clítico/palavra prosódica; (b) 34,6% envolviam a relação clítico/clítico; (c) 19,2% a relação palavra prosódica/palavra prosódica; e (d) 11,6% a relação palavra prosódica/clítico. Nos 19 registros hipossegmentados: (a) 42,1% correspondiam a conflitos envolvendo a relação clítico/palavra prosódica; (b) 26,3% a relação palavra prosódica/palavra prosódica; (c) 15,8 % a relação palavra prosódica/clítico; (d) 10,5% a relação clítico/clítico; e (e) 5,3% a relação palavra prosódica/clítico/palavra prosódica. Os resultados permitiram concluir, dentre outras coisas, que os conflitos mais recorrentes são aqueles que colocam em cena o envolvimento do clítico com a palavra prosódica e o envolvimento entre clíticos. Em todos esses casos, a criança parece lidar, principalmente, com a possibilidade de um clítico ser parte de uma palavra (formando vocábulos dissílabos ou trissílabos), como em acasa, ou ainda, de uma sílaba corresponder a uma palavra monossilábica, como em a cabou.