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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Paixões da memória: entre a lembrança e o esquecimento
Autor(es): Mariana Luz Pessoa Mariana Luz. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave autobiografia, paixes, semitica
Resumo

Como mostra o antropólogo Marc Augé, em Les formes de l’oublie (1998), muitas paixões possuem uma forte relação com a memória. Algumas estão mais ligadas ao esquecimento, como o perdão, a indiferença ou a negligência, e outras à lembrança, como o remorso, a obsessão, o ressentimento, o rancor e a saudade. Neste trabalho, discutiremos essas “doenças” da memória a partir do quadro teórico da semiótica discursiva e de seus desdobramentos mais atuais, especialmente com a semiótica tensiva. Noções como as de acontecimento e de modos de existência serão convocadas por possibilitarem uma fina análise dos efeitos patêmicos que a memória provoca sobre o narrador de obras autobiográficas. Tais conceitos guiarão o exame do jogo que se estabelece entre lembrar e esquecer no livro Infância (2003), de Graciliano Ramos, e em dois volumes das extensas memórias de Pedro Nava: Baú de ossos (2000) e Galo-das-trevas (2003). No caso de Nava, dois efeitos patêmicos, duas posturas distintas em relação ao passado vão marcar o narrador: a saudade e o ressentimento. Ao comparar o presente com o passado, o narrador reconhece este como um período melhor, de plenitude, enquanto o presente é tomado pelo sentimento de perda. Assim, é a saudade a paixão dominante em Nava. No entanto, a narrativa das memórias apresenta-se também como ocasião para vingar-se. O narrador acredita ter vivido algumas injúrias no passado e usa a escrita como arma contra os que lhe fizeram mal. É interessante notar que ele não recusa o sistema de valores de seus ofensores, apenas se vê como alguém que não teve o reconhecimento devido. Percebemos, assim, alguns elementos da configuração patêmica do ressentimento, tal qual descrita por Fiorin (2007). Essa postura difere da encontrada em Infância, obra na qual um narrador revive o passado como período de violências inúmeras e, por conta disso, nega o sistema de valores dominante em seus tempos de menino, o que, somado a outros elementos, contribui para caracterizar a paixão do rancor. Talvez o rancor, iterativo e intenso, seja o estado que marca o narrador em Infância, nada saudoso com relação ao vivido.