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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Uma proposta pós-colonialista para a produção de materiais didáticos para o ensino-aprendizagem de Português como Língua Adicional
Autor(es): Leandro Rodrigues Alves Diniz. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Portugus Lngua Adicional, ps-colonialismo, materiais didticos
Resumo

Num cenário de notável recrudescimento das políticas de promoção do português no exterior e da “internacionalização” das instituições de ensino superior brasileiras, urge estruturar práticas para o ensino-aprendizagem de Português como Língua Adicional (PLA) que contribuam para uma educação linguística ampliada (CAVALCANTI, 2013). Algumas pesquisas que realizamos evidenciam, entretanto, o fortalecimento de discursos marcadamente mercadológicos e nacionalistas, que, significando o português (do Brasil) como um idioma de “crescente valor econômico” (DINIZ, 2010, 2012; ZOPPI-FONTANA, 2009), reproduzem representações essencializadas e totalizantes dessa língua e das culturas a ela vinculadas (BIZON, 2013). Com alguma frequência, encontro, por exemplo, livros didáticos de ampla circulação que celebram ufanamente a superfície da chamada “cultura brasileira”, apagando contradições e disputas de nossa sociedade, assim como o próprio funcionamento – inexoravelmente político – do português. Reconheço, assim, alguns efeitos da vertente liberal do multiculturalismo, criticada por Maher (2007), também na produção contemporânea de livros didáticos de PLA, que já evidenciam sinais de esvaziamento do conceito “interculturalidade”, da mesma forma como observado em relação ao de “abordagem comunicativa”. Diante disso, proponho-me, no presente trabalho, a refletir sobre minha própria experiência na produção de um livro didático de PLA, em co-autoria com Elizabeth Fontão e Ana Cecilia Bizon, na busca pelo desenho de tarefas e projetos ancorados em uma perspectiva assumidamente intercultural. Para tanto, analisarei desafios para a implementação de algumas propostas que, buscando ir ao encontro do que propõem autores como Sousa Santos (2004), Maher (2007), Cavalcanti (2013) e Moita Lopes (2013), objetivam: (i) levar os aprendizes de PLA a reconhecerem o funcionamento sempre ideológico do português, sensibilizando-os para os efeitos de sentido produzidos por diferentes formas na materialidade linguística; (ii) visibilizar vozes silenciadas, vindas de grupos historicamente marginalizados em comunidades falantes de português; (iii) trazer à tona diferentes “variedades” do português, em oposição à tendência de se apresentar um português distante até mesmo daquele praticado por pessoas com alto nível de escolarização; (iv) sensibilizar os aprendizes de PLA para diferenças não só inter, mas também intraculturais. Espero, dessa forma, contribuir para um ensino-aprendizagem de PLA que, assumindo um compromisso ético e crítico, favoreça a desnaturalização de grandes narrativas da modernidade e a vivência de experiências – inevitavelmente tensas – de descentralização cultural.