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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: MODOS INDÍGENAS DE AGIR SOBRE A LÍNGUA: CONSIDERAÇÕES SOBRE AÇÕES DE PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO DESENVOLVIDAS POR ÍNDIOS BRASILEIROS
Autor(es): Lilian Abram dos Santos. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Poltica Lingustica, Lnguas indgenas, Contato lingustico
Resumo

Como pode ser atestado pela observação do contexto indígena brasileiro atual, o contato linguístico entre línguas indígenas e português é um fato compulsório. Falantes monolíngues em línguas indígenas caminham para uma situação de bilinguismo em língua(s) indígena(s) e português.   Ainda que a diversidade sociocultural dos povos indígenas nos coloque diante de diferentes amostras de situações desse contato, não se pode negar que muitas das línguas autóctones se encontram, contemporaneamente, em graus variados de vulnerabilidade. Línguas indígenas podem, num curto espaço de tempo, passar a ser usadas por um número cada vez mais reduzido de falantes que as têm como línguas maternas. Tal constatação revela uma enorme perda para toda a humanidade, e não somente para seus falantes, visto que uma língua é a criação de um mundo. A partir de minha experiência como docente, pesquisadora e consultora junto a povos indígenas, discorrerei sobre um modo bastante particular de conceber e elaborar ações de planejamento para o fortalecimento das línguas que estão sendo continuamente minorizadas. Tenho notado que, dentre muitas ações voltadas deliberadamente para o ensino e aprendizagem das línguas indígenas, em contextos de educação formal nas escolas das aldeias, tem emergido um outro conjunto de ações direcionadas para a criação de condições que possibilitem a promoção do uso cotidiano e ritualístico das línguas. Ou seja, o foco dessas ações de planejamento linguístico não é a língua em si, mas, sim, práticas socioculturais de uso da língua. Para os índios que têm se empenhado em desenvolver ações deste segundo conjunto a língua não é concebida como uma entidade separada de cultura porque a língua é criação e manifestação das práticas culturais. Dessa forma, as ações de planejamento linguístico levam em conta o uso real da língua por seus falantes e, para isso, momentos de interação pautados em práticas culturais precisam ser criados, tais como reuniões para contação de histórias e pinturas corporais; elaboração de festas, em que danças, músicas e comidas precisam ser partilhadas.   Parece estar claro para esse grupo de planejadores linguísticos que a língua só existe nessas manifestações cotidianas e ritualísticas da vida de todos nós. Novamente, o conhecimento indígena chama nossa atenção. A compreensão adequada da concepção de língua que está por trás dessas intervenções poderá lançar luz para novas maneiras de planejar ações na área da política linguística, mas, para além disso, a(s) concepção(ões) indígena(s) de língua poderão acrescentar muito conhecimento aos estudos linguísticos.