logo

Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Análise morfológica dos crioulos do Golfo da Guiné e do kabuverdianu.
Autor(es): Manuele Bandeira de Andrade Lima, Shirley Freitas Sousa. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Lnguas crioulas do Golfo da Guin, Kabuverdianu, Processos morfolgicos
Resumo

Segundo McWhorter (1998), as línguas crioulas são mais simples morfologicamente do que as línguas não-crioulas. De forma análoga, Thomason (2001) apresenta a hipótese da transparência semântica, segundo a qual nos casos em que a morfologia aparece em línguas pidgins e crioulas, ela tende a ser regular, transparente, sem as irregularidades comumente encontradas em línguas não-crioulas. A despeito desses estudos e de outros que descrevem os mecanismos gramaticais das línguas crioulas como “simples” e “sem complexidades”, os dados analisados comprovam o uso variado de recursos morfológicos autóctones dessas línguas para a criação de novos itens lexicais. Nesta apresentação, investigaremos os processos morfológicos de itens lexicais em algumas línguas crioulas de base portuguesa – como kabuverdianu de Santiago (KV), santome (ST), lung’ie (LU), angolar (ANG)– com o objetivo de discutir a questão da suposta simplicidade dessas línguas e da inexistência de morfologia. Para a análise, foram retirados dados de Brüser et al. (2002), Araujo & Hagemeijer (2013), Araujo, Bandeira, Agostinho (em preparação), e Bandeira (em preparação). Um dos processos morfológicos a ser analisado é o acréscimo do sufixo -mentu a bases verbais para criar um nome, como em: ndjutu[mentu] (KV) ‘falta de respeito’, saka[mentu] (LU) ‘vômito’, benze[mentu] (ST) ‘inauguração’. Nesses casos, não é possível considerar esses vocábulos resultados de empréstimo, uma vez que na língua lexificadora desses crioulos (o português), não existe uma forma igual ou similar. O uso de ideofones é outro processo produtivo nas línguas crioulas para modificar nomes e veicular novos significados. É o que se vê, por exemplo, no lung’ie (baanku ‘branco’ – baanku fenene ‘branquíssimo’), no santome (mon ‘mão’ – mon kluklu ‘braço amputado’) e no angolar (bôbô ‘amarelo’ – bôbô la-la-la ‘amarelíssimo’). Além disso, a reduplicação também é um fenômeno recorrente, como em kentxi ‘quente’ – kentxi-kentxi ‘ansioso, impaciente, querendo tomar o lugar’ (LU), dôdô ‘doido, maluco, lunático’ – dôdô-dôdô ‘amalucadamente, desnorteadamente’ (ST). Em síntese, com esta análise, observou-se que essas línguas crioulas recorrem a processos morfológicos de diferentes naturezas, o que se contrapõe à ideia de que os crioulos não possuem morfologia.

(Apoio: FAPESP – Processo 2013/08100-4 e CAPES)