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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Estatuto da nasalidade nas línguas crioulas de STP
Autor(es): Amanda Macedo Balduino. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Fonologia, Nasalidade, Lnguas Crioulas
Resumo

O lung'ie e o santome são línguas crioulas de base portuguesa faladas em São Tomé e Príncipe (STP). Considerando o papel lexificador do português em ambas as línguas, notam-se, tanto estruturas compartilhadas entre elas, quanto traços intrínsecos às línguas autóctones. Partindo desta constatação, neste painel descrevo e analiso a nasalidade no lung'ie e no santome, cotejando questões como (i) há vogais intrinsecamente nasais? (ii) a nasalidade vocálica pode ser resultado de um espraiamento da coda nasal? (iii) é possível estabelecer uma correlação com a nasalidade do português? De fato, a fonte de nasalidade na língua portuguesa foi e é alvo de muitos estudos e, a ampla discussão acerca deste fenômeno o permite ser analisado sob diversas perspectivas (cf. Wetzels & Moraes 1992). As duas hipóteses mais difundidas em torno deste tema são a monofonêmica (Leite 1974), a qual concebe a nasalidade como constituinte distintivo dentro do sistema vocálico fonológico do português, e, a hipótese bifonêmica que, assume o mesmo fenômeno como resultado do espraiamento do traço [+NASAL] oriundo de uma consoante nasal subjacente na camada CV (Câmara 1953; 1970; Cagliari 1977; Wetzels 1991).

                      Pautados nos conceitos teóricos de ambas hipóteses e tendo em vista a descrição da nasalidade em lung'ie e santome, adotamos um corpus gravado composto por itens lexicais inseridos em uma frase-veículo como E fla X dosu ve ‘Digo X duas vezes’ e   E faa X dosu vese ‘Digo X duas vezes’, onde X era substituído pelo item lexical alvo. Baseando-se na Fonologia de Laboratório (Browman & Goldstein 1989; Ohala 1995), cujo método de análise é fundamentado em experimentos que buscam atingir um resultado empírico (Wetzels & Moraes 1992) os pares mínimos retirados do corpus foram contrapostos, e, a partir disso, obedecendo critérios fonológicos segmentais e suprassegmentais, mediu-se a duração dos segmentos, adotando para tanto o programa Praat. Feito isso, os dados obtidos foram organizados e analisados por métodos comparativos e estatísticos, onde se constatou que as vogais nasais são, em média, 19% mais longas em relação às vogais orais.

                      Diante deste resultado ainda parcial, há indícios de que a nasalidade vocálica do lung'ie e do santome corresponde à duração do fone vocálico propriamente dito mais a duração equivalente de um segmento não vocálico, neste caso o traço espraiado [+NASAL], corroborando, portanto, com a hipótese bifonêmica.