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Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: Como nasce uma expressão adverbial de gradação
Autor(es): Luisandro Mendes de Souza. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Semntica, Gradao, Mudana lingustica
Resumo

É fato conhecido que expressões graduadoras tanto podem ocorrer como determinantes dentro do sintagma nominal, muitos/poucos linguistas, quanto como advérbios, modificando sintagmas verbais, adjetivais ou adverbiais, e.g. gosto muito/muito alto/Ele fala inglês muito bem (Ilari et alli, 1993). A partir disso, Guimarães (2007) propôs que não há diferença linguística relevante entre o domínio dos indivíduos (o domínio da quantidade) e o domínio gradual. Partiremos dessa hipótese para mostrar que ela explica por que sintagmas de medida como um pouco, um tanto, um bocado, entre outras, podem também ocorrer como modificadores adverbiais típicos. Essas expressões funcionam no domínio nominal como medidores. Em Preciso de um pouco de farinha, um pouco mede a quantidade de substância farinha. Essa expressão também aparece modificando verbos: Hoje dormi um pouco; adjetivos: João está um pouco cansado; advérbios: Ele chegou um pouco cedo. Nesses diferentes contextos em que funciona como adverbial, a expressão mede a duração temporal do evento, o grau em que o indivíduo exibe a propriedade cansado, e o quão cedo foi a chegada do sujeito, respectivamente. A distribuição dessas expressões nos mostra que elas obedecem a uma restrição semântica geral: expressões graduadoras só modificam predicados com estrutura interna não-trivial, ou seja, o predicado não pode ter denotação singular. A distribuição delas também nos mostra que não são todas que ocorrem em todos os contextos típicos. Um pouco aparece em todos os domínios, um monte/bocado em alguns, e uma porção/punhado apenas no domínio nominal. Os resultados dessa investigação mostram que expressões que ainda são concretas ocorrem apenas no domínio nominal, enquanto expressões intermediárias, já com sua significação concreta menos latente, vão transbordando para outras classes. Partindo dessas assunções, e da intuição de que esse uso é inovador no português brasileiro contemporâneo, nosso objetivo é argumentar que são justamente essas propriedades semânticas que possibilitam que uma expressão típica do domínio nominal possa se gramaticalizar como graduador. Em outras palavras, a hipótese de Guimarães nos permite explicar por que um determinante pode funcionar como adverbial. Comparações com outras línguas nos mostram que esse não é um fenômeno particular no português (cf. Doetjes, 1997). Logo, temos uma hipótese semântica que explica a mudança linguística. O que, esperamos, uma pesquisa diacrônica, ainda a ser feita, pode nos mostrar com mais detalhes.