Programação do 63º seminário do GEL

O setor de telemarketing é um campo privilegiado para se observar as contradições e ambivalências do trabalho na contemporaneidade, o que vem possibilitando reflexões sobre o tema, oriundas de diversas áreas do conhecimento. No entanto, são poucos os estudos que se situam na articulação entre a Análise do Discurso e a Ergologia, áreas do conhecimento convidadas a dialogar com a dimensão complexa e enigmática da atividade humana. O objetivo deste trabalho é situar-se neste espaço, refletindo ergológica e discursivamente sobre a atividade de trabalho de operadoras de telemarketing, marcada por rígidos prescritos, controle da linguagem, taylorização da fala e cumprimento de metas, mas destacando como a comunidade discursiva que a sustenta (Maingueneau,1997; 2004) resiste às infidelidades do meio,  reinterpretando as normas à luz da trajetória de cada um e de todos, a partir de um encontro de valores que sustente a história construída juntos e em separado, de escolhas de ação, mais principalmente, da produção de novos saberes, a espera de serem convocados (Schwartz e Durrive, 2010). Os dados analisados foram gerados a partir de entrevista realizada com duas trabalhadoras do setor, ambas com escolaridade média e nenhuma experiência anterior na área. Em suas falas, pode-se observar que, por meio de prática discursiva (leitura em situação de trabalho), o grupo realiza a gestão da variabilidade do meio de forma imprevista e, assim o fazendo, dá vida à comunidade-corpo que a torna possível. Como o telemarketing é uma atividade carente de tradições organizativas, despolitizada e com baixa aparição coletiva na cena pública, considera-se que tal estudo possa contribuir para visibilizar, tirar da “penumbra”, o processo de precarização do trabalho a que são expostas tais trabalhadoras, assim como também evidenciar as possibilidades de recriação do meio, por meio da resistência coletiva ao “silenciamento” de suas singularidades. Os resultados atingidos até o momento demonstram que os discursos ou práticas discursivas são produzidos simultaneamente às comunidades discursivas nas quais se inserem, assim como reveladores dos debates permanentes a respeito das normas e valores que os regem, o que permite instaurar uma cooperação entre saberes constituídos e saberes investidos.