logo

Programação do 63º seminário do GEL


63º SEMINáRIO DO GEL - 2015
Título: A batalha dos números: a estimativa de multidões como parte das estratégias argumentativas nas relações de poder mediadas pela imprensa
Autor(es): Carlos Alberto Zanotti. In: SEMINÁRIO DO GEL, 63 , 2015, Programação... São Paulo (SP): GEL, 2015. Acesso em: 05/05/2024
Palavra-chave Multides, Imprensa, Sociedade midiatizada
Resumo

A referencialidade é um pressuposto inerente ao texto jornalístico do gênero informativo, dada à necessidade de se apresentarem provas acerca das narrativas para as quais a imprensa oferece sua condição testemunhal (GOMES, 2000; LAGE, 2012). A estratégia – embora não tenha esta finalidade – contribui para atribuir o máximo da objetividade que se deseja transparecer em tais relatos. Do ponto de vista cognitivo, a informação publicada auxilia o leitor a compor um “retrato” particular da condição em que se encontra o evento atualizado pela notícia (DIJK, 2004). Com base nestes preceitos, o trabalho aqui produzido tem por objetivo debater as estimativas de multidões publicadas na imprensa como estratégias inerentes aos jogos de poder que se realizam entre os atores sociais. Tomando por base as doutrinas que fundamentam os compromissos do jornalismo, procuramos mostrar que, ao invés de noticiar, uma parte da mídia deixa de fazer jornalismo e se engaja em campanhas publicitárias ao mencionar números referentes a aglomerações. Examinamos mais a fundo a polêmica que se instalou quando a Polícia Militar do Estado de São Paulo calculou em 1 milhão o número de pessoas presentes no protesto contra o Governo Federal, em 15 de março de 2015, na avenida Paulista, em São Paulo. O evento foi amplamente divulgado pela mídia, tendo sido realizado dois dias depois de apoiadores do Governo Federal terem também realizado suas mobilizações pelo país. No dia seguinte à manifestação na Paulista, um dos mais importantes jornais brasileiros publicava que, segundo suas avaliações, era de 210 mil o número de participantes do evento, ao que se seguiu uma série de acusações. Registrava-se ali uma rara oportunidade em que os números apresentados pela autoridade policial superavam as estimativas dos organizadores. Dados que informam o volume de participantes em eventos mobilizatórios auxiliam o público e os cidadãos engajados nas causas noticiadas a avaliar a extensão e a força das manifestações. Esses números são também utilizados para municiar os grupos que se digladiam para impor versões e argumentos na arena pública representada pelos meios de comunicação. Diante de impasses como este, o leitor, por sua vez, adota o número que melhor se adapta às suas posições particulares. E a verdade, ao seu turno, se transforma em mais uma das vítimas desta guerra discursiva.